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QUADRINHOS
Desenhista lança "Racista, Eu? De Jeito Nenhum!" e discute papel do negro na sociedade e nas artes gráficas
Cartuns de Pestana analisam o racismo
MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DA REPORTAGEM LOCAL
Um policial pára um carro dirigido por um negro que, de dentro
do automóvel, põe as duas mãos
para o alto. "Só queria uma informação", diz o policial. "Desculpe-me, é a força do hábito", responde
o negro. O diálogo, em forma de
cartum, ilustra a capa e prenuncia
o conteúdo do segundo volume
do livro "Racista, Eu? De Jeito Nenhum!", que o cartunista Maurício Pestana lança neste mês pela
editora Gênero.
Se, como dizia o grupo O Rappa, todo camburão tem um pouco
de navio negreiro, Pestana é o
ilustrador desta realidade. Nascido em Santo André (SP), com
passagem por diversos veículos
de imprensa, como "O Pasquim"
e a revista "Isto É", o cartunista é
um estudioso do envolvimento e
da representação dos negros nas
artes gráficas -ou da falta de representação, já que no Brasil, país
com enorme população negra, os
personagens e desenhistas são
majoritariamente brancos.
"A falta de negros como profissionais do desenho explica em
parte porque eles são pouco retratados nos quadrinhos: o desenho
se parece com o desenhista", explica Pestana. Entre os motivos
pelos quais o percentual de cartunistas e ilustradores negros é tão
reduzido, Pestana cita as dificuldades econômicas que empurram
os jovens pobres para outros trabalhos, tomando o tempo necessário para o aperfeiçoamento nas
artes gráficas.
Segundo ele, a situação constrói
uma cadeia viciosa: com poucos
negros desenhando, há poucos
negros desenhados e muitos estereótipos na hora de representá-los. "Na situação atual, os desenhistas têm uma vivência do outro. É preciso que tenhamos artistas negros, roteiristas negros para
contar sua própria história", diz.
Ele explica as diferenças de representação citando seu próprio
exemplo. "Quando eu desenho
um negro nos quadrinhos, eles
nunca saem da mesma cor, ao
contrário do que acontece quando o desenhista é branco."
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