São Paulo, segunda-feira, 18 de julho de 2005

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QUADRINHOS

Desenhista lança "Racista, Eu? De Jeito Nenhum!" e discute papel do negro na sociedade e nas artes gráficas

Cartuns de Pestana analisam o racismo

MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DA REPORTAGEM LOCAL

Um policial pára um carro dirigido por um negro que, de dentro do automóvel, põe as duas mãos para o alto. "Só queria uma informação", diz o policial. "Desculpe-me, é a força do hábito", responde o negro. O diálogo, em forma de cartum, ilustra a capa e prenuncia o conteúdo do segundo volume do livro "Racista, Eu? De Jeito Nenhum!", que o cartunista Maurício Pestana lança neste mês pela editora Gênero.
Se, como dizia o grupo O Rappa, todo camburão tem um pouco de navio negreiro, Pestana é o ilustrador desta realidade. Nascido em Santo André (SP), com passagem por diversos veículos de imprensa, como "O Pasquim" e a revista "Isto É", o cartunista é um estudioso do envolvimento e da representação dos negros nas artes gráficas -ou da falta de representação, já que no Brasil, país com enorme população negra, os personagens e desenhistas são majoritariamente brancos.
"A falta de negros como profissionais do desenho explica em parte porque eles são pouco retratados nos quadrinhos: o desenho se parece com o desenhista", explica Pestana. Entre os motivos pelos quais o percentual de cartunistas e ilustradores negros é tão reduzido, Pestana cita as dificuldades econômicas que empurram os jovens pobres para outros trabalhos, tomando o tempo necessário para o aperfeiçoamento nas artes gráficas.
Segundo ele, a situação constrói uma cadeia viciosa: com poucos negros desenhando, há poucos negros desenhados e muitos estereótipos na hora de representá-los. "Na situação atual, os desenhistas têm uma vivência do outro. É preciso que tenhamos artistas negros, roteiristas negros para contar sua própria história", diz.
Ele explica as diferenças de representação citando seu próprio exemplo. "Quando eu desenho um negro nos quadrinhos, eles nunca saem da mesma cor, ao contrário do que acontece quando o desenhista é branco."

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