São Paulo, terça-feira, 18 de julho de 2006

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Crítica/erudito

Campos recebeu dois gigantes da música

ARTHUR NESTROVSKI
ENVIADO ESPECIAL A CAMPOS DO JORDÃO

Naquele momento da tarde de sábado, a capela do Palácio Boa Vista, em Campos do Jordão, era um dos centros musicais do universo, incandescido de dentro para fora pela música de Shostakovich (1906-75), que o violoncelista Antonio Meneses tocava bem acompanhado pela pianista Celina Szrvinsk, enquanto o frio do mundo baixava de fora para dentro pelas paredes de vidro.
Dava dó pensar que só cento e poucas pessoas tinham o privilégio de escutar Meneses assim de perto. E naquele cenário, com as montanhas cobrindo a vista de lado a lado da transparente capela do arquiteto Paulo Mendes da Rocha. Que esse privilégio, ao mesmo tempo, correspondesse à verdade daquela música de câmara, que afinal é para ser ouvida em "câmara", seria um bom tema para a sociologia, meio esquecida hoje no debate musical.
A experiência de escutar o violoncelista a dois metros de distância só ressalta aquilo que já se escutava a 20, ou 200: uma capacidade de fazer viver cada nota, eterna enquanto dure, como se menos que isso nem fosse música. Desde a primeiríssima nota do "Adagio e Allegro" de Schumann (1810-56) foi assim, passando também pela "Seresta" de Edino Krieger (1928), o compositor residente deste 37º Festival de Inverno, assistindo ao concerto de mãos dadas com sua mulher, Neném.

Nelson e OSB
Tudo isso era só parte da programação, que continuava com ninguém menos do que o pianista Nelson Freire, solista do "Concerto nº 9" de Mozart (1756-91), à frente da Orquestra Sinfônica Brasileira regida pelo diretor artístico do Festival, Roberto Minczuk. No auditório Claudio Santoro lotado, Nelson fez a prévia do concerto marcado para 12/8 no Municipal do Rio, quando estará comemorando exatos 50 anos de sua estréia, aos 11, tocando o mesmo concerto no mesmo teatro com a mesma orquestra.
Nelson é Nelson. Foi mais ele mesmo no segundo movimento; depois pisou no pedal e deixou a orquestra sem fôlego. A OSB, de sua parte, ainda não voltou (ou chegou) a si; mas parece muito bem encaminhada, como se pôde ouvir no final da "Quinta" de Tchaikovsky (1840-93). Mincuzk e a OSB estão vivendo um casamento novo. Nem precisa ser eterno. Mas que dure.


FESTIVAL DE INVERNO DE CAMPOS DO JORDÃO     

O articulista ARTHUR NESTROVSKI viajou a convite da produção do festival


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