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Crítica/erudito
Campos recebeu dois gigantes da música
ARTHUR NESTROVSKI
ENVIADO ESPECIAL A CAMPOS DO JORDÃO
Naquele momento da
tarde de sábado, a capela do Palácio Boa
Vista, em Campos do Jordão,
era um dos centros musicais do
universo, incandescido de dentro para fora pela música de
Shostakovich (1906-75), que o
violoncelista Antonio Meneses
tocava bem acompanhado pela
pianista Celina Szrvinsk, enquanto o frio do mundo baixava
de fora para dentro pelas paredes de vidro.
Dava dó pensar que só cento
e poucas pessoas tinham o privilégio de escutar Meneses assim de perto. E naquele cenário, com as montanhas cobrindo a vista de lado a lado da
transparente capela do arquiteto Paulo Mendes da Rocha. Que
esse privilégio, ao mesmo tempo, correspondesse à verdade
daquela música de câmara, que
afinal é para ser ouvida em "câmara", seria um bom tema para
a sociologia, meio esquecida
hoje no debate musical.
A experiência de escutar o
violoncelista a dois metros de
distância só ressalta aquilo que
já se escutava a 20, ou 200: uma
capacidade de fazer viver cada
nota, eterna enquanto dure, como se menos que isso nem fosse música.
Desde a primeiríssima nota
do "Adagio e Allegro" de Schumann (1810-56) foi assim, passando também pela "Seresta"
de Edino Krieger (1928), o
compositor residente deste 37º
Festival de Inverno, assistindo
ao concerto de mãos dadas com
sua mulher, Neném.
Nelson e OSB
Tudo isso era só parte da programação, que continuava com
ninguém menos do que o pianista Nelson Freire, solista do
"Concerto nº 9" de Mozart
(1756-91), à frente da Orquestra Sinfônica Brasileira regida
pelo diretor artístico do Festival, Roberto Minczuk. No auditório Claudio Santoro lotado,
Nelson fez a prévia do concerto
marcado para 12/8 no Municipal do Rio, quando estará comemorando exatos 50 anos de
sua estréia, aos 11, tocando o
mesmo concerto no mesmo
teatro com a mesma orquestra.
Nelson é Nelson. Foi mais ele
mesmo no segundo movimento; depois pisou no pedal e deixou a orquestra sem fôlego. A
OSB, de sua parte, ainda não
voltou (ou chegou) a si; mas parece muito bem encaminhada,
como se pôde ouvir no final da
"Quinta" de Tchaikovsky
(1840-93). Mincuzk e a OSB estão vivendo um casamento novo. Nem precisa ser eterno.
Mas que dure.
FESTIVAL DE INVERNO DE CAMPOS DO JORDÃO
O articulista ARTHUR NESTROVSKI viajou a
convite da produção do festival
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