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Crítica/teatro
"Plan B" une ousadia e diversão
Sucesso no FIT de Rio Preto, espetáculo que concilia performance e teatro tem duas apresentações em SP
SÉRGIO SALVIA COELHO
ENVIADO ESPECIAL A RIO PRETO
"Plan B", da CIE 111, é
abstrato e divertido
como um "raciocínio por absurdo" em geometria. Triunfou no sétimo FIT de
Rio Preto e tem tudo para ganhar fãs em São Paulo, onde faz
duas apresentações.
Espetáculo híbrido, entre o
circo, a performance e o teatro,
concebido em 2003 pelo acrobata-cenógrafo Aurélien Bory,
com a assistência de Olivier
Alenda (que divide o palco com
Bory e os performers Loic
Praud e Pierre Cartonnet), todos baseados em Toulouse, na
França, e a direção do Phil Soltanoff, que vem do teatro experimental de Nova York.
Esta é a segunda peça de uma
trilogia. "IJK", de 2000, partia
do volume, do tridimensional
explorado por três performers;
com seis, a terceira peça, "Plus
ou Moins l'Infini", de 2005, é
ainda mais minimalista: investiga a linha.
Logo na primeira cena, anônimos em ternos impecáveis,
como nos quadros de Magritte,
deslizam por um plano inclinado a 45 graus. Uma precisão milimétrica e um ritmo obsessivo
apontam para um universo impessoal, escheriano, puramente racional. Progressivamente,
o plano assume a vertical e se
torna muro, e depois a horizontal, e um truque de câmera faz o
atrito interferir na gravidade,
efeito acentuado pelo malabarismo de bolas brancas. Bolas
que passam também a ser instrumentos de percussão, integrando a trilha.
Ora, logo a previsibilidade é
destruída, já que "plano" é também um projeto futuro, e "plano B" é aquele ao qual se recorre quando tudo dá errado. E é a
hesitação diante do obstáculo
que dá a dimensão teatral ao espetáculo.
A princípio, a solenidade é
mantida, com uma certa angústia no ar, se o público fizer a relação com as estratégias de sobrevivência no World Trade
Center, por exemplo.
Mas logo o lirismo vai dando
lugar ao burlesco, com um humor cada vez mais subversivo.
Explorando sistematicamente
cada recurso que se apresenta,
em tema e variações, a elegância dos truques de music hall
vai flertar com todas as mídias,
a agilidade do videogame, o
non-sense da "Pantera Cor-de-Rosa", o faz-de-conta kitch de
Batman e Robin subindo nos
prédios, no seriado da TV.
Mas é do cinema que vêm as
melhores citações de "Plan B".
Sem nenhum diálogo, há referências ao experimentalismo
pioneiro de Méliès, ao cenário
instável de Buster Keaton, à
subversão do cotidiano de Harold Lloyd e às panorâmicas do
deserto de "Paris, Texas".
Preciso como os planos do cinema, patético como os planos
estratégicos de executivos em
treinamento, "Plan B" revela
aos poucos uma humanidade
enternecedora, um resgate da
dignidade do medo da falha
diante das leis incontornáveis
da física. Sem nenhum hermetismo, mas oferecendo a profundidade que se queira tirar
desse espetáculo para todas as
idades, o projeto da CIE 111
concilia o experimentalismo
com a diversão, sem nenhuma
concessão ao fácil.
O crítico SÉRGIO SALVIA COELHO e a repórter-fotográfica LENISE PINHEIRO viajaram a convite da organização do festival
PLAN B
Quando: hoje e amanhã, às 21h
Onde: Sesc Pinheiros (r. Paes Leme,
195, tel. 0/xx/11/3095-9400)
Quanto: R$ 15
Avaliação: ótimo
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