São Paulo, quarta-feira, 18 de julho de 2007

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Crítica/teatro

"Plan B" une ousadia e diversão

Sucesso no FIT de Rio Preto, espetáculo que concilia performance e teatro tem duas apresentações em SP

SÉRGIO SALVIA COELHO
ENVIADO ESPECIAL A RIO PRETO

"Plan B", da CIE 111, é abstrato e divertido como um "raciocínio por absurdo" em geometria. Triunfou no sétimo FIT de Rio Preto e tem tudo para ganhar fãs em São Paulo, onde faz duas apresentações.
Espetáculo híbrido, entre o circo, a performance e o teatro, concebido em 2003 pelo acrobata-cenógrafo Aurélien Bory, com a assistência de Olivier Alenda (que divide o palco com Bory e os performers Loic Praud e Pierre Cartonnet), todos baseados em Toulouse, na França, e a direção do Phil Soltanoff, que vem do teatro experimental de Nova York.
Esta é a segunda peça de uma trilogia. "IJK", de 2000, partia do volume, do tridimensional explorado por três performers; com seis, a terceira peça, "Plus ou Moins l'Infini", de 2005, é ainda mais minimalista: investiga a linha.
Logo na primeira cena, anônimos em ternos impecáveis, como nos quadros de Magritte, deslizam por um plano inclinado a 45 graus. Uma precisão milimétrica e um ritmo obsessivo apontam para um universo impessoal, escheriano, puramente racional. Progressivamente, o plano assume a vertical e se torna muro, e depois a horizontal, e um truque de câmera faz o atrito interferir na gravidade, efeito acentuado pelo malabarismo de bolas brancas. Bolas que passam também a ser instrumentos de percussão, integrando a trilha.
Ora, logo a previsibilidade é destruída, já que "plano" é também um projeto futuro, e "plano B" é aquele ao qual se recorre quando tudo dá errado. E é a hesitação diante do obstáculo que dá a dimensão teatral ao espetáculo.
A princípio, a solenidade é mantida, com uma certa angústia no ar, se o público fizer a relação com as estratégias de sobrevivência no World Trade Center, por exemplo.
Mas logo o lirismo vai dando lugar ao burlesco, com um humor cada vez mais subversivo. Explorando sistematicamente cada recurso que se apresenta, em tema e variações, a elegância dos truques de music hall vai flertar com todas as mídias, a agilidade do videogame, o non-sense da "Pantera Cor-de-Rosa", o faz-de-conta kitch de Batman e Robin subindo nos prédios, no seriado da TV.
Mas é do cinema que vêm as melhores citações de "Plan B". Sem nenhum diálogo, há referências ao experimentalismo pioneiro de Méliès, ao cenário instável de Buster Keaton, à subversão do cotidiano de Harold Lloyd e às panorâmicas do deserto de "Paris, Texas".
Preciso como os planos do cinema, patético como os planos estratégicos de executivos em treinamento, "Plan B" revela aos poucos uma humanidade enternecedora, um resgate da dignidade do medo da falha diante das leis incontornáveis da física. Sem nenhum hermetismo, mas oferecendo a profundidade que se queira tirar desse espetáculo para todas as idades, o projeto da CIE 111 concilia o experimentalismo com a diversão, sem nenhuma concessão ao fácil.


O crítico SÉRGIO SALVIA COELHO e a repórter-fotográfica LENISE PINHEIRO viajaram a convite da organização do festival

PLAN B


Quando: hoje e amanhã, às 21h
Onde: Sesc Pinheiros (r. Paes Leme, 195, tel. 0/xx/11/3095-9400)
Quanto: R$ 15
Avaliação: ótimo



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