São Paulo, sexta-feira, 18 de julho de 2008

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Loucos por K7

Sites como Cassette from My Ex e Mixwit relembram o antigo hábito de gravar fitas para amigos(as) e namorados (as)

Danilo Verpa/Folha Imagem
A produtora Lili Molina, que, na adolescência, costumava trocar fitas cassetes com o namorado

BRUNO YUTAKA SAITO
DA REPORTAGEM LOCAL

Para as gerações pré-iPod, ela era mais eficiente do que qualquer carta de amor. Neurônios eram torrados, horas e horas eram gastas na busca pela seqüência perfeita. Entre os vidrados em música, gravar uma fita cassete personalizada era presente obrigatório para que um amor fosse conquistado, ou para que uma grande amizade fosse consolidada.
Mas as fitas não foram de vez para a aposentadoria. Se não são muito usadas hoje (entre os anos 70 e 90, antes dos CDs e iPods, eram a principal mídia para gravar música), elas se tornaram objeto de culto e inspiram uma série de sites que prestam tributo ao antigo e romântico hábito da criação de "mixtapes", ou em português claro, fitinhas.
"Eu passava horas em frente ao aparelho de som, com os dedos nos botões "record" e "play" e os joelhos doendo, na esperança de impressionar uma garota com meu conhecimento musical", diz Jason Bitner, 34, criador do site Cassette from my Ex (cassete do(a) meu(minha) ex -www.cassettefrommyex.com). "Tínhamos que sofrer por nossas fitinhas." No site, o norte-americano convida escritores, músicos, designers, entre outros, a escreverem crônicas sobre uma fita K7 que ganharam do(a) ex.
Além de hospedar saborosos textos (todos em inglês) em que a memória afetiva se mistura a auto-análises, o site coloca as músicas no ar para audição. "Um dia fui ao meu porão e encontrei uma caixa de sapato empoeirada com várias fitas.
Reparei que as únicas que guardei foram aquelas feitas para mim. Você não pode se livrar das fitas, elas estão carregadas de histórias, de nostalgia. Me dei conta de que várias pessoas da minha idade talvez ainda as guardassem", diz Bitner, sobre a criação do site.
É o caso do vocalista da banda paulistana Multiplex, Leandro Cunha, 34. Ainda mais extremo, o cantor continua, até hoje, não apenas guardando, mas gravando fitas, já que até outro dia trabalhava em um brechó onde o único aparelho de som rodava apenas fitas.
"Eu me realizava gravando e fazendo as capinhas. Mas não sou saudosista a ponto de achar que antigamente as coisas eram melhores. Mas, às vezes, tem um choque de gerações", diz Cunha. "No brechó, tinha um cara de 21 anos. Um dia, pedi pra ele mudar o lado da fita, e ele não sabia como fazer..."

Ela rock, ele MPB
As "mixtapes" são, também, uma forma de intercâmbio. A produtora de shows Lili Molina, 40, por exemplo, ampliou seu repertório com elas. "Aos 18 anos, eu tinha um namorado com quem me comunicava por fitas. Até escrevia cartas, mas a gente falava muito mais pelas músicas. Eu era mais roqueira, e ele gostava de MPB. Tenho fitas dele com Chico Buarque, Elomar, Caetano. Aliás, foi por uma dessas fitas que eu conheci os Doces Bárbaros." Mais atualizado, o músico e produtor Paulo Beto (de projetos como Freakplasma e Anvil FX) mantém o hábito usando o site Mixwit (www.mixwit.com), que, assim como o similar Muxtape (www.muxtape.com), permite a criação de fitas virtuais, para serem ouvidas on-line. Mesmo tendo se livrado de todas as fitas velhas, ele relembra o passado com bom humor: "Sempre gostei de gravar fitas para namoradas! Era o meu momento de me sentir importante, já que sempre fui conhecido por ser uma pessoa da música".
Outro que aderiu à tecnologia é o escritor Santiago Nazarian. Em 2002, ele passou de vez para o gravador de CDs: "O principal do ritual romântico de gravar fitas é que você tem de percorrer cada música, ouvindo até o fim. A questão da seqüência também existe no CD, claro, mas hoje as músicas são passadas por MSN, gravadas em pen drive...De qualquer forma, não sou saudosista".
Bitner, por fim, conclui: "Adoramos celebrar e idolatrar as coisas que tínhamos quando crianças. Cassetes simbolizam nossa era, e queremos manter essa memória viva".

Colaborou AUDREY FURLANETO , da Reportagem Local



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