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LIVROS
Crítica/"Cadernos de Guerra e Outros Textos"
Escritos possibilitam revisão da obra de Marguerite Duras
Registros dos anos 40 incluem versões de textos que ela publicaria décadas depois
ADRIANO SCHWARTZ
ESPECIAL PARA A FOLHA
"Cadernos de Guerra
e Outros Textos"
funciona simultaneamente como porta de entrada e "porta de saída" da
imensa obra literária de Marguerite Duras (1914-1996).
O volume contém desde trechos de livros iniciais da escritora francesa, dos anos 50, como "Uma Barragem contra o
Pacífico", até versões primeiras
de romances que ela publicará
muito mais tarde, nos anos 80,
como "A Dor".
Os textos, redigidos entre
1943 e 1949, período crucial da
vida da autora, cumprem assim
o papel de mostrar ao leitor
uma espécie de painel de sua
produção, ao mesmo tempo em
que dão a aqueles que já a conhecem a possibilidade de reviver de um jeito diferente o contato com situações e personagens recorrentes.
Como quase tudo o que ela
fez, estes cadernos são fortemente autobiográficos, e não
foi pequena a atenção que eles
receberam dos biógrafos de
Duras, como os organizadores
do volume salientam. Reaparecem ali a infância vivida na Indochina, a relação com a mãe, a
iniciação amorosa, o retorno
para a França, os anos da ocupação nazista e da resistência.
Há passagens primorosas,
como esta, do segundo caderno, reaproveitado depois em "A
Dor", que narra a volta do marido de um campo de concentração em que estivera cativo:
"Não seria uma coisa extraordinária se ele voltasse.
Atenção: não seria extraordinário.
"Alô?" "Quem é?" "Sou eu,
Robert". Seria normal e não extraordinário. Tomar cuidado
para não fazer disso um acontecimento que pertença ao extraordinário, o Extraordinário
é um mal-entendido. Ser razoável. Eu sou razoável. Espero por
Robert, que deve voltar. O telefone: "Alô." "Alô, você tem notícias?" Dois tempos. O primeiro:
acontece que o telefone toca,
não é inútil esperar que ele toque, um telefone serve para tocar. O segundo: merda. Vont
ade de vomitar."
Além dos quatro cadernos, a
edição da Estação Liberdade
traz também outros quatro textos autobiográficos do final da
década de 30 e seis pequenas
narrativas de ficção um pouco
mais tardias.
ADRIANO SCHWARTZ é professor de literatura
da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da
USP.
CADERNOS DE GUERRA E
OUTROS TEXTOS
Autora: Marguerite Duras
Tradução: Mário Laranjeira
Editora: Estação Liberdade
Quanto: R$ 56 (384 págs.)
Avaliação: ótimo
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