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Díaz une pop e letras em "spanglish"
Autor dominicano tem primeiro romance lançado no Brasil e diz que falta muito para integração dos latinos nos EUA
Para o vencedor do Pulitzer
de 2008, "há mudanças
maravilhosas em curso, mas
o racismo ainda é enorme,
assim como o preconceito"
MARCOS STRECKER
DA REPORTAGEM LOCAL
Já faz algum tempo que a nova literatura britânica aprendeu a beber na fonte multiculturalista. O choque pós-colonial e a crise entre imigrantes
têm fertilizado a prosa inglesa e
produzido nomes como Zadie
Smith e Hanif Kureishi, para citar só dois entre os mais famosos do universo pop.
Nos EUA, o fenômeno é mais
recente, mas já tem pelo menos
um nome de peso: Junot Díaz.
Esse dominicano-americano já
era apontado como uma grande
promessa desde 1996, quando
chegou às livrarias a coletânea
de contos "Afogado" (lançado
pela Record, com tradução de
Renato Aguiar).
Em 2007, com seu primeiro
romance, "A Fantástica Vida
Breve de Oscar Wao", que chega agora ao Brasil, veio a consagração. A obra consumiu mais
de dez anos do perfeccionista
Díaz, mas o esforço compensou. Valeu o Pulitzer de ficção
de 2008 e um elogio rasgado do
sóbrio "New York Times".
Díaz ganhou a fama de quem
quebrou barreiras no mundo
anglófono. Foi considerado o
grande representante do
"spanglish", a mistura de inglês
e espanhol que migrou das ruas
para a literatura. Mas o autor
rejeita rótulos. Também não se
identifica com sua geração.
"Nunca li nada de Jonathan
Safran Foer. Me sinto mais em
comunhão com Patrick Chamoiseau [francês de origem
martinicana] do que com Dave
Eggers", disse à Folha.
O autor se projetou nos EUA
pré-Obama, em que a ascensão
da comunidade latina assustava o establishment "wasp"
(branco, anglo-saxônico e protestante). Na América em lua
de mel com Obama, chegou o
momento dos latinos?
"Eu sou a pessoa errada para
falar se a literatura latina é
mais aceita. Sou um vencedor.
Os que não conseguem publicar é que devem responder.
Olhando à minha volta, vejo
uma quantidade enorme de latinos que não são publicados."
Para o autor, é difícil dizer se
a eleição de um afrodescendente vai mudar a aceitação dos
imigrantes. "Há mudanças maravilhosas em curso, mas o racismo ainda é enorme, assim
como o preconceito."
Junot [o nome vem do francês] é uma espécie de Spike Lee
da literatura, mas alia a atitude
política ao humor. "Oscar
Wao" pode ser lido como uma
epopeia picaresca da diáspora
dominicana sob a ditadura Rafael Trujillo, narrada por um
anti-herói, em tom de farsa.
Além de divertido, o texto de
Díaz é fluente. É uma mistura
de gêneros, que começa com
epígrafe do "Quarteto Fantástico", do Stan Lee, lembra uma
paródia moderna de Rabelais e
acaba em tragédia.
Professor associado de escrita criativa no MIT (Instituto
Tecnológico de Massachusetts), Díaz afirma que a forma
híbrida "existia desde o início".
Para ele, a ideia de um romance
"enciclopédico" tem a ver com
o Caribe, "que abriga todo o
mundo". O autor diz que procurou fazer "um espelho" do
lugar de onde veio. "Foi uma
decisão estética e formal."
O livro pode ganhar as telas.
Uma das possibilidades é a direção de Walter Salles com roteiro de Jose Rivera, o que reeditaria a dupla de "Diários de
Motocicleta". Mas é apenas
uma possibilidade, dizem o cineasta e o escritor.
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