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Crítica/"A Fantástica Vida Breve de Oscar Wao"
Díaz elevou "spanglish" ao pódio das premiações literárias americanas
JOCA REINERS TERRON
ESPECIAL PARA A FOLHA
O Pulitzer de ficção recebido em 2001 por "As
Incríveis Aventuras de
Kavalier and Clay" (Record), de
Michael Chabon, parece ter
sancionado o ingrediente pop
na composição de romances literários. No romance, Chabon
reinventa a Nova York dos anos
40 e 50 por meio da vida de dois
criadores da era de ouro dos
quadrinhos, relendo o período
com verve e estilo. Histórias em
quadrinhos e História, assim,
grafada com agá maiúsculo,
também são alicerces de "A
Fantástica Vida Breve de Oscar
Wao", de Junot Díaz, ganhador
do Pulitzer de ficção em 2008.
Tal reconhecimento pulveriza de vez (e com rajadas de
raios "phaser") ideias há muito
questionáveis sobre a inadequação ao romance de certos
temas, como o uso de semideuses saídos dos gibis de super-heróis, por exemplo, "rebaixando" a alta cultura e revendo estratificações anacrônicas.
Não contente com a revisão
de normas, Junot Díaz aproveitou para temperar o inglês suburbano de Nova Jersey com
pitadas macarrônicas do espanhol dialetal de imigrantes dominicanos e com o léxico precioso (para não dizer pernóstico) do vocabulário "nerd". Ao
fazer isso, Díaz elevou com méritos o "spanglish" ao pódio das
premiações literárias norte-americanas.
Oscar Wao seria o "nerd" típico, não fosse imigrante dominicano (afinal, "nerds" só poderiam ser pessoas brancas, é o
que insinua Díaz o tempo todo), uma figura rotunda na
quantidade de lipídios e também em conhecimento acumulado sobre ficção científica, fantasia, os universos Marvel e
D.C. etc.
Obeso e tímido
Nada semelhante aos seus
parentes estereotipados (machos com ginga e figurinos berrantes de caribenhos), Oscar é
obeso, tímido e não tem o menor jeito com as mulheres, apesar de viver cercado por elas.
Em suma (para ilustrar melhor), ele e Hugo "Hurley" Reyes (o divertido balofo interpretado por Jorge Garcia em
"Lost") parecem ter sido separados no berço, pois conhecem
"Star Wars" de trás para frente,
mas quase nada sobre a natureza terráquea.
Épico familiar cujos meandros estão ligados aos sangrentos episódios da história dominicana da era Trujillo, o romance de Junot Díaz revisa a crueldade do exílio sob ótica pouco
usual, que não é estritamente
política.
Ao mesmo tempo em que as
mulheres fantásticas da vida de
Oscar (sua mãe, Belicia, e a irmã, Lola, dividem peso de igual
para igual com o protagonista
-distribuído, porém, em outras partes do corpo que não a
cintura) sofrem as agruras da
dupla marginalidade da condição feminina e de exiladas, a
identidade do rapaz dilui-se na
mistura adúltera de tudo da
cultura pop anglófila, surgida
nos anos 60 (assim como Galactus, personagem de Stan Lee
citado logo na epígrafe), transformando-o no herói adequado
aos dias atuais. A boa tradução
de Flávia Anderson (que habilmente transforma o "spanglish" num selvagem portunhol), só corrobora essa ideia.
A FANTÁSTICA VIDA BREVE DE
OSCAR WAO
Autor: Junot Díaz
Tradução: Flávia Anderson
Editora: Record
Quanto: R$ 45 (336 págs.)
Avaliação: ótimo
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