São Paulo, domingo, 18 de julho de 2010

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CRÍTICA DRAMA

Al Pacino brilha como traficante pobretão

O pouco conhecido e muito pesado "Os Viciados" marca o primeiro papel de protagonista do astro americano

THALES DE MENEZES
EDITOR-ASSISTENTE DA SÃOPAULO

Em 2010, Al Pacino completa 70 anos em plena atividade, mas quem ganha presente são os fãs brasileiros. Acaba de sair aqui em DVD "Os Viciados", título burocrático diante do original em inglês, "Panic in the Needle Park" (traduzindo, pânico no parque da agulha).
Lançado em 1971, é o primeiro trabalho protagonizado por Pacino na tela. Apesar de uma carreira de destaque no teatro off-Broadway, até então tinha feito apenas uma ponta de três minutos num filme menor, "Me, Natalie".
Em seguida a "Os Viciados", ele já brilharia no papel de Michael Corleone em "O Poderoso Chefão", iniciando a trajetória de astro.
O melhor ao assistir sua estreia é ver um artista jovem e já impactante. Sua composição como Bobby, um traficante pobretão em Nova York, impressiona muito.
Frequentador do tal "parque da agulha", ele se apaixona pela sem-teto Helen, interpretada por Kitty Winn. Bela e talentosa, ela ganhou o prêmio de atriz em Cannes por esse papel, mas largou a carreira poucos anos depois para casar e criar os filhos.
No jovem elenco, aparece mais um rosto conhecido: Raul Julia, muito antes de "O Beijo da Mulher-Aranha".
Bobby e Helen vão mergulhando cada vez mais num angustiante cenário de consumo pesado de drogas. Um de seus amigos chega a assaltar uma clínica veterinária e a injetar vermífugo na veia.

PROIBIDO NO BRASIL
O filme é perturbador, com cenas escancaradas de veias roxas perfuradas por agulhas. Proibido nos cinemas brasileiros, chegou à TV no final dos anos 70. Passou na "Sessão de Gala", da Globo, com tantos cortes que o tornaram incompreensível.
"Os Viciados" foi dirigido por Jerry Schatzberg, cineasta sério que nunca emplacou um grande sucesso. Ele ficou mais famoso pela carreira paralela de fotógrafo e por ter namorado Faye Dunaway, umas das musas da época.
Schatzberg voltou a trabalhar com Pacino dois anos depois, ao lado de Gene Hackman, em outro drama contundente, "Espantalho".
Apesar dos astros, é mais um filme que passou batido no Brasil. Pacino e Hackman são vagabundos de estrada e sem nenhum futuro. Realmente, Schatzberg gosta do mundo dos perdedores.
Uma típica curiosidade de cinéfilo sobre "Os Viciados": Pacino revelou que conviveu com traficantes para compor seu personagem, mas que sua grande inspiração foi Ratso, papel de Dustin Hoffman em "Perdidos na Noite", lançado em 1969.
O ator diz que apenas trocou a decadência física do moribundo Ratso pelo permanente sorriso de Bobby, "um joão-ninguém tão seguro de si quanto Pernalonga".
O DVD prova que Pacino foi genial desde o começo.


OS VICIADOS

DISTRIBUIDORA Lume Filmes
QUANTO R$ 42, em média
AVALIAÇÃO ótimo


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