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Crítica/"Anjos do Sol"
Ênfase na denúncia prejudica dramaturgia
SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA
"Anjos do Sol" está a serviço de uma causa: a denúncia da prostituição infantil. Não se destina a mero consumo no circuito de lazer. Quer
chamar a atenção de público e
imprensa para a exploração sexual de meninas, sobretudo da
região Nordeste, e estender seu
impacto em debates no circuito
universitário e político.
Para iluminar as principais
coordenadas do problema, é
uma ferramenta eficaz, de contornos quase didáticos. Começa com a exposição do trabalho
de um recrutador (Chico Diaz),
que se aproveita da pobreza de
uma família de pescadores para
tirar dali uma nova menina.
Maria (Fernanda Carvalho) é
a vítima da vez. Seu calvário
tem início aos 12 anos, com
uma leiloeira de virgens (Vera
Holtz). Depois, vai parar em
um bordel que, apesar da tirania do proprietário (Antonio
Calloni) e do regime semi-escravo de trabalho, algumas das
prostitutas consideram melhor
do que a vida levada antes.
Por fim, ela cai em outra modalidade de exploração, voltada
para turistas estrangeiros, sob
o comando de uma cafetina
(Darlene Glória) no Rio. Na trama, Maria tem a responsabilidade, pelo que sofre e vê, de resumir o que a Secretaria Especial de Direitos Humanos disse
ocorrer, em 2005, em 937 municípios brasileiros.
E por onde andaria o Estado,
com seus mecanismos de punição? No filme, ninguém sabe,
ninguém viu. Embora as circunstâncias da prostituição sejam de conhecimento público,
sugere-se que tem gente se fingindo de morta para não intervir. Não há a quem pedir socorro em "Anjos do Sol".
A ênfase na denúncia traz dificuldades para a dramaturgia.
De um lado, há um certo mecanicismo no modo como tudo
ocorre a Maria, sobrecarregada
pela exigência de falar por todas as vítimas de exploração.
De outro, quando trabalha situações mais fortes, como a
morte de uma menina, o filme
se divide entre um pudor de escancarar a violência e o impulso de mostrar de maneira crua
até onde ela às vezes chega.
ANJOS DO SOL
Direção: Rudi Lagemann
Produção: Brasil, 2006
Com: Fernanda Carvalho, Chico Diaz
Quando: em cartaz nos cines Penha,
Reserva Cultural e circuito
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