São Paulo, segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Gramado consagra "Nome Próprio"

Filme de Murilo Salles em cartaz no circuito de cinema ganhou três Kikitos, entre eles os de melhor filme e melhor atriz

"A Festa da Menina Morta," estréia do ator Matheus Nachtergaele na direção, ganhou Prêmio do Júri; Oliveira ganha direção

SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A GRAMADO

O júri oficial do 36º Festival de Cinema de Gramado deu a "Nome Próprio", de Murilo Salles, o Kikito de melhor filme, na noite do último sábado. "A Festa da Menina Morta", de Matheus Nachtergaele, recebeu o Prêmio Especial do Júri e os troféus de melhor filme segundo a crítica e o público. Domingos Oliveira foi o melhor diretor, por "Juventude", "sobre o universo psicológico do homem de 70 anos", segundo o cineasta.
Todos os demais prêmios da competição entre seis longas nacionais foram atribuídos aos filmes de Salles, Nachtergaele e Oliveira. Os concorrentes "Netto e o Domador de Cavalos", de Tabajara Ruas, "Pachamama", de Eryk Rocha, e "Vingança", de Paulo Pons, saíram sem troféus.
Quinto longa de Salles, "Nome Próprio" estreou no mês passado em dez cidades brasileiras. Foi visto por aproximadamente 25 mil pessoas.
Para o diretor, os anêmicos resultados de bilheteria do cinema nacional neste ano "não são culpa dos filmes, mas da política". Ele cita o valor dos ingressos, "a R$ 20", e o tamanho do parque exibidor brasileiro, de "2.000 salas" como exemplos de que "falar em economia do cinema no Brasil é cinismo".
Salles diz que inscreveu o filme à disputa em Gramado mesmo após seu lançamento em circuito comercial porque sentia-se "devedor de um prêmio" à atriz Leandra Leal. Ela vive a protagonista Camila, jovem blogueira que anseia escrever seu primeiro livro, enquanto atravessa crises amorosas.
"Nome Próprio" foi submetido a festivais estrangeiros, que o recusaram. Salles vê na rejeição "racismo das curadorias internacionais", que enxergariam "a angústia como um problema dos brancos" e estariam interessados apenas em filmes brasileiros sobre a miséria econômica e social da população, predominantemente negra.
Gramado saldou a dívida do cineasta com Leandra Leal, dando a ela o Kikito de melhor atriz. "Amo ser atriz. Agradeço muito por ganhar um prêmio por fazer o que gosto", disse ela.
O melhor ator foi Daniel Oliveira, pela interpretação do líder religioso Santinho de "A Festa da Menina Morta". Quando subiu ao palco para receber seu troféu, Oliveira disse: "Está faltando perna. Está faltando braço. Estou me sentindo aquele cara que ganhou os 50 metros rasos [o nadador brasileiro César Cielo, medalha de ouro em Pequim]".
O longa de Nachtergaele, que trata da superação da dor e da religiosidade como mecanismo de produção de sentidos para a vida e a morte, esteve na mostra Um Certo Olhar do Festival de Cannes, em maio passado. Em Gramado, o filme teve a primeira exibição pública no país.
"Está sendo bem mais bonito do que jamais imaginei. Obrigado, Gramado", disse Nachtergaele, ao receber seu quarto e último troféu da noite -o Prêmio Especial do Júri.
Oliveira agradeceu o Kikito de melhor diretor citando a acolhida que "Juventude" teve da platéia -a mais calorosa do festival. "A emoção que tive no dia em que o filme passou aqui foi inédita", afirmou.
Na disputa entre os cinco longas estrangeiros, o vencedor foi o mexicano "Cochochi", produzido pelo ator Gael García Bernal e dirigido por Israel Cardenas e Laura Guzman.
A crítica elegeu o colombiano "Perro Come Perro" (cão come cão), e o público, o argentino "Por sus Propios Ojos" (com seus próprios olhos).
No Festival de Gramado, o júri popular não é formado pela totalidade da platéia das sessões competitivas, mas sim por um colegiado de 14 leitores de jornal, selecionados em diversos Estados.


Texto Anterior: Inscrições para sabatina na sexta estão abertas
Próximo Texto: Os principais premiados
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.