São Paulo, segunda-feira, 18 de agosto de 2008

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Beck busca a concisão em álbum

Com tom desapegado, "Modern Guilt" tem a participação de Danger Mouse, do Gnarls Barkley, e de Cat Power

Novo trabalho de norte-americano só tem duas canções com mais de quatro minutos e diversas delas são cortadas abruptamente

DAVE ITZKOFF
DO "NEW YORK TIMES", EM LOS ANGELES

Alguns meses atrás, Beck Hansen cumpriu uma promessa que havia feito a si mesmo: arquivar a pilha de gravações que tinha guardadas em seu armário. A tarefa o ajudou a reencontrar o músico que era no passado e o artista em que se transformou e, enquanto ele avaliava mais de uma década de canções nunca lançadas, seus sentimentos oscilavam entre a nostalgia, o alívio e a vergonha. "É um pouco aleatório, o que termina sendo lançado e o que fica na lata", diz Beck. "Parte do material é embaraçosa e parte é melhor do que eu imaginaria. Algumas coisas deviam ser queimadas." Os percursos que ele seguiu e os que ele rejeitou o conduziram a um novo ponto de inflexão em sua carreira. Beck lançou "Modern Guilt", seu oitavo álbum por grandes gravadoras. É sua primeira colaboração com Danger Mouse, que responde por metade do grupo de funk-rock Gnarls Barkley, e seu último lançamento sob o contrato de gravação iniciado com o primeiro sucesso comercial de sua carreira, "Mellow Gold" (1994), álbum cujo destaque era o sucesso "Loser". Mas a ocasião não parece causar impacto no Planeta Beck. "Não me preocupei em planejar coisa alguma", afirma. Anteriormente, com álbuns híbridos de folk, rock e hip hop, como "Mellow Gold" e "Odelay", a preocupação de Beck era mais tornar cada canção e cada álbum diferente do precedente. No entanto, isso virou uma armadilha, avalia ele. "Eu podia simplesmente fazer um monte de bobagens -um especial na TV francesa e depois tocar em mais um festival no Japão. Foi o que fiz durante anos, e há um momento em que você começa a se sentir limitado." O verdadeiro avanço criativo de sua música aconteceu, segundo ele, com "Sea Change", em 2002, uma série de canções queixosas e sem truques, inspiradas por uma separação. "Estou em um show", ele conta, "tocando uma canção acústica, e um cara na fileira da frente fica gritando e pedindo que eu toque "Loser". Já houve dias em que a platéia simplesmente ia embora -o pesadelo de um artista". Em "Modern Guilt", o objetivo de Beck era encontrar um meio termo. Com Danger Mouse, a esperança era que o gosto musical eclético de ambos resultasse em canções animadas mas enxutas, exuberantes mas não exageradas. Mas, para Beck, o álbum parece gravado "em modo morto-vivo, às duas da manhã, depois de sabe Deus quantas semanas tentando". Sob o ritmo contagiante e minimalista providenciado por Danger Mouse e alguns vocais de apoio de Chan Marshall (Cat Power), as dez faixas de "Modern Guilt" têm em comum um tom de negação, desapego. A brevidade de "Modern Guilt" -só duas canções têm mais de quatro minutos e diversas delas são cortadas abruptamente por volta dos três minutos- é proposital, diz Beck. "Eu queria que tudo fosse realmente conciso, que acabasse antes de acabar."


Tradução PAULO MIGLIACCI

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