|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Ancine soube de séries vendidas por R$ 1
Agência diz que produtoras eram reféns do poder de canais estrangeiros; limite ao uso da verba pública divide setor
Para Andrea Ribeiro,
da O2, regra prejudica acordos; já Ricardo Rozzino, da Pinguim,
diz ser "superpositiva"
DE SÃO PAULO
Não se pode contar qual é
o canal estrangeiro nem o nome da série brasileira, mas a
história é reveladora.
Diante do sucesso, um representante do canal ligou
para a produtora no Brasil:
"Gostamos do programa que
fizeram e queremos comprar
os direitos para produzi-lo
em outros países".
Após reunião com seus sócios, o produtor ligou para
dar a resposta: "Vocês já são
donos dos direitos do programa". E veio a resposta do estrangeiro, que encerrou a ligação. "Sério? Que bom!"
Presidente da Ancine
(Agência Nacional do Cinema), Manoel Rangel afirma
que a agência observou "ao
longo dos últimos sete anos
que o uso do incentivo fiscal
para produções nacionais estava sendo desvirtuado".
Ele afirma ter visto contratos que cediam a canais estrangeiros, "por valores simbólicos", obras brasileiras
produzidas com verba pública. "Cheguei a ler contratos
de séries que custaram R$ 5
milhões serem vendidas por
R$ 100 mil. Também soube
de casos de contratos que
vendiam séries por R$ 1."
Segundo ele, muitas vezes
o contrato de produção e o de
venda dos direitos da obra
eram assinados no mesmo
dia, antes mesmo de a série
começar a ser feita.
"Isso ganhava aparência
legal, mas na verdade era
uma prática que fazia com
que a obra não fosse mais
uma produção independente
brasileira. Séries patrocinadas por leis de incentivo
eram exibidas uma, duas vezes no país e desapareciam."
Agora obrigados a serem
sócios minoritários das
obras, os canais estrangeiros
dizem que a regra prejudicará a produção nacional.
"Os canais têm um limitador que diz por quanto tempo
podem ter exclusividade nas
séries [cinco anos]. Isso pode
reduzir a produção. O mercado tem condição de se regular sozinho", afirma Carlos
Alkimim, diretor-executivo
da ABPTA (Associação Brasileira de Programadores de
TV por Assinatura), que representa 50 canais pagos.
Produtores nacionais se
dividem. "Protecionismo demais vira paternalismo e prejudica o curso das negociações e a própria regulamentação do mercado", diz Andrea Barata Ribeiro, da O2. A
produtora fez séries para a
HBO, cuja marca é o conteúdo exclusivo.
Já Adriano Civita, da Prodigo, que teve de adequar à
nova regra um contrato com
a HBO, pensa diferente.
"Falamos de verba pública
para estimular a indústria
nacional. Estrangeiro que
quiser ser dono de série deve
fazê-la com o próprio dinheiro", diz ele, conselheiro da
Associação Brasileira dos
Produtores Independentes.
"A regra é superpositiva.
Fizemos questão de ser donos do "Peixonauta" e não tivemos problemas", diz Ricardo Rozzino, da TV Pinguim.
(LAURA MATTOS)
Texto Anterior: Brasil paga para exportar séries Próximo Texto: Frase Índice
|