São Paulo, segunda-feira, 18 de setembro de 2000

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LITERATURA
Cem anos após sua morte, descobrir textos "inéditos" e objetos pessoais do escritor irlandês virou indústria
Encontro discute Oscar Wilde "pirata"

RICARDO GRINBAUM
DE LONDRES

Entre os eventos que lembram os cem anos da morte de Oscar Wilde, um chama a atenção em especial. Ontem e hoje, acadêmicos, escritores e fãs do escritor participam de encontro no Magdalen College, em Oxford, mas não discutem a obra do autor.
O tema do seminário é a indústria de exploração da imagem de Wilde. Segundo a tese dos acadêmicos, virou um bom negócio descobrir manuscritos inéditos, cartas originais, fotos e objetos pessoais do escritor que escandalizou a Inglaterra do final do século 19 ao assumir o seu homossexualismo.
Entretanto, a maioria dos documentos apresentados como inéditos já foi exaustivamente debatida pelos acadêmicos. Objetos vendidos em leilões como se fossem relíquias nunca foram tocados pelo escritor.
Para os acadêmicos, há uma explicação nas "descobertas" de Wilde. Se em vida ele foi perseguido pela sociedade vitoriana, agora seu nome é símbolo de status.
"Wilde exerce muito fascínio. Além de ser um grande escritor, teve uma vida atribulada, foi perseguido e injustiçado. Era visto como um pecador, mas agora virou um tipo de santo", diz Merlin Holland Wizard, neto do escritor.
O caso mais recente de manuscrito inédito ocorreu há cerca de um mês. Um pesquisador amador disse ter achado uma peça inacabada de Wilde ao vasculhar a biblioteca W.A. Clark, nos Estados Unidos.
"A Tragédia de uma Esposa", com 52 páginas, é autobiográfico. Segundo o "Sunday Times", a peça mostra como Wilde começou a trair a mulher. O texto foi escrito em 1894, quando Wilde teve casos com marinheiros e com um entregador de jornais.
"O documento, supostamente inédito, é conhecido desde os anos 20 e já foi tema de estudos, debates acadêmicos e de um livro. O pesquisador nem foi à biblioteca da Califórnia ver os originais", diz Andrew Mcdonnel, responsável pelo seminário em Oxford.
Com objetos do escritor acontece fenômeno semelhante. "Sempre que há um leilão escrevo para os vendedores perguntando como sabem que foi de Wilde. Nunca obtive resposta", diz Wizard.
No início do ano, a casa de leilão Bonhams anunciou a venda de uma foto de Wilde -em um grupo de estudantes- do tempo de escola. A fotografia estava avaliada em cerca de R$ 3.000, mas o negócio foi cancelado depois de se levantarem dúvidas sobre a autenticidade da imagem.
A Christie's vendeu há cinco anos uma foto e duas cartas de Wilde a Philip Griffiths, que seria seu amante, por R$ 40 mil.


Excepcionalmente hoje não é publicada a coluna de Telmo Martino


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