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LITERATURA
Cem anos após sua morte, descobrir textos "inéditos" e objetos pessoais do escritor irlandês virou indústria
Encontro discute Oscar Wilde "pirata"
RICARDO GRINBAUM
DE LONDRES
Entre os eventos que lembram
os cem anos da morte de Oscar
Wilde, um chama a atenção em
especial. Ontem e hoje, acadêmicos, escritores e fãs do escritor
participam de encontro no Magdalen College, em Oxford, mas
não discutem a obra do autor.
O tema do seminário é a indústria de exploração da imagem de
Wilde. Segundo a tese dos acadêmicos, virou um bom negócio
descobrir manuscritos inéditos,
cartas originais, fotos e objetos
pessoais do escritor que escandalizou a Inglaterra do final do século 19 ao assumir o seu homossexualismo.
Entretanto, a maioria dos documentos apresentados como inéditos já foi exaustivamente debatida pelos acadêmicos. Objetos
vendidos em leilões como se fossem relíquias nunca foram tocados pelo escritor.
Para os acadêmicos, há uma explicação nas "descobertas" de
Wilde. Se em vida ele foi perseguido pela sociedade vitoriana, agora
seu nome é símbolo de status.
"Wilde exerce muito fascínio.
Além de ser um grande escritor,
teve uma vida atribulada, foi perseguido e injustiçado. Era visto
como um pecador, mas agora virou um tipo de santo", diz Merlin
Holland Wizard, neto do escritor.
O caso mais recente de manuscrito inédito ocorreu há cerca de
um mês. Um pesquisador amador disse ter achado uma peça
inacabada de Wilde ao vasculhar
a biblioteca W.A. Clark, nos Estados Unidos.
"A Tragédia de uma Esposa",
com 52 páginas, é autobiográfico.
Segundo o "Sunday Times", a peça mostra como Wilde começou a
trair a mulher. O texto foi escrito
em 1894, quando Wilde teve casos
com marinheiros e com um entregador de jornais.
"O documento, supostamente
inédito, é conhecido desde os
anos 20 e já foi tema de estudos,
debates acadêmicos e de um livro.
O pesquisador nem foi à biblioteca da Califórnia ver os originais",
diz Andrew Mcdonnel, responsável pelo seminário em Oxford.
Com objetos do escritor acontece fenômeno semelhante. "Sempre que há um leilão escrevo para
os vendedores perguntando como sabem que foi de Wilde. Nunca obtive resposta", diz Wizard.
No início do ano, a casa de leilão
Bonhams anunciou a venda de
uma foto de Wilde -em um grupo de estudantes- do tempo de
escola. A fotografia estava avaliada em cerca de R$ 3.000, mas o
negócio foi cancelado depois de
se levantarem dúvidas sobre a autenticidade da imagem.
A Christie's vendeu há cinco
anos uma foto e duas cartas de
Wilde a Philip Griffiths, que seria
seu amante, por R$ 40 mil.
Excepcionalmente hoje não é publicada
a coluna de Telmo Martino
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