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Beat desacelerado
Flávio Florido/Folha Imagem
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Pista de dança da casa noturna Ibiza, recém-inaugurada em São Paulo, onde as festas são embaladas por DJs de música eletrônica |
Crítico inglês vê onda electroclash e supervalorização tecnológica como crise criativa da música eletrônica
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GUILHERME WERNECK
DA REPORTAGEM LOCAL
Durante os anos 90, nenhuma
forma de música podia ser comparada às diferentes vertentes da
música eletrônica em termos de
criatividade e de impacto sobre a
cultura de massas.
Porém, mais de 15 anos depois
de a house de Chicago e de o tecno
de Detroit terem conquistado a
Europa, a música eletrônica dá sinais de que passa por uma crise de
criatividade.
A opinião é do crítico Simon
Reynolds, 40, que participou da
cena eletrônica inglesa desde o
início e escreveu um dos livros
mais completos sobre o desenvolvimento da música eletrônica nos
EUA e na Europa, "Energy Flash"
(Macmillan, 1998, 493 págs.).
Leia a seguir trechos da entrevista que deu à Folha, por e-mail,
de Nova York, onde mora.
Folha - A música eletrônica passa
por um momento de falta de criatividade?
Simon Reynolds - Pode ser apenas que a música tenha recursos
finitos em termos de inventividade. Houve uma ebulição criativa
tão grande e uma quantidade tão
imensa de música produzida nos
últimos 12 a 15 anos que todas as
boas idéias já foram usadas. Pelo
menos até que apareça uma nova
tecnologia ou surja uma interface
desconhecida entre uma nova
tecnologia e uma nova droga. De
qualquer forma, um sinal de que a
música eletrônica está com problemas é a nostalgia prematura de
seu próprio passado. Muitos produtores estão fazendo discos de
rave retrô, voltando ao som do começo dos anos 90 ou a fase do
jungle de 1994. Ou ainda ao electroclash dos anos 80.
Folha - A volta do electro é uma
resposta à falta de novidade da
house e do tecno?
Reynolds - Sim, as pessoas queriam vocais, sexo, senso de humor
e grandes canções. Infelizmente, a
maior parte das pessoas envolvidas no electroclash não compõe
boas músicas. Com certeza eles
não chegam nem perto da qualidade dos grupos eletrônicos dos
anos 80, como Human League e
Gary Numan.
Folha - A popularização da produção de música eletrônica contribui
para o fato de que há muito mais
discos disponíveis, mas menos inventividade?
Reynolds - Penso que o que
acontece é que a tecnologia permite que as pessoas façam discos
muito bons, com padrões de produção muito elevados. Antes, a
produção era bem limitada. Mas
os limites são combustíveis para a
criatividade. "Restrição é a mãe
da invenção", dizia Holger Czukay, do Can. De qualquer forma,
há muita música boa sendo feita
hoje em dia, mas é difícil escolher
um exemplo de algo que seja realmente especial ou significativo.
Os discos seminais são ofuscados
por essa música apenas decente,
de qualidade. Ou talvez não existam mais discos seminais. Mesmo
que houvesse seria mais difícil vê-los. A tecnologia permite que pessoas fiquem obcecadas em ajustar
detalhes em suas músicas, adicionando pequenas partes infinitamente. Em geral, arte é saber
quando parar de adicionar outra
camada, outro detalhe.
Folha - Há superexposição da música eletrônica hoje?
Reynolds - É difícil dizer que isso
ocorra nos EUA, onde ela não toca muito no rádio nem na televisão. Mas na Europa dá para falar
que a eletrônica é o mainstream,
está em todos os lugares, e as pessoas estão enjoadas dos sons e dos
beats. É por isso que uma nova geração de garotos descolados passou a curtir bandas de novo. Para
mim, o novo rock é reacionário
em matéria de som, mas entendo
porque a garotada gosta do White
Stripes ou do Rapture. A cultura
do ecstasy e das raves parece um
tanto óbvia, passada, sem graça. É
o que seus irmãos mais velhos, ou
até seus pais, faziam.
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