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Comentário
Em São Paulo, lama, caos e corrupção
XICO SÁ
COLUNISTA DA FOLHA
Repórter farejador da lama
política, esperava uma chamada sobre o destino do capo PC
Farias, mas o fone do apê da
Frei Caneca só tocava para os
caras. Imprensa e gângsteres
de gravadoras à procura de
Science e Zero Quatro.
Primeira excursão, ainda
sem discos, da Nação Zumbi e
do Mundo Livre S/A, ano da
graça de 1993, São Paulo.
Foi aí que atinei para a marcha da história: estão aprontando alguma e não me contaram
direito a bola. Com Zero Quatro, amigo do jornal "A Brecha"
e de um grupo de estudos sobre
"Crônica de Uma Morte Anunciada", do García Márquez, havia sido enquadrado no campus
da UFPE, rua 7 de Setembro e
Beco da Fome, geografia afetiva
e bagaceira do Hellcife velho de
assombrações tantas.
Este outrora poeta também
abria alguns shows do Mundo
Livre, com leituras ao som do
Love, play again Arthur Lee,
teu povo o espera, volta, miserável, "forever changes"!
Science não dizia nada do
que estava acontecendo, só tirava "la buena onda"; Zero
Quatro tampouco. Nem dava
tempo. Eles correndo para encontrar os "falcões" (crédito
para Bob Dylan, baby) das gravadoras -na era paleolítica em
que ainda se precisava disso- e
o repórter fuçando pistas. De
corrupção durante o dia e de
rock à meia noite. Logo depois,
Bia Abramo e Alex Antunes,
meus Freuds do mangue bit
(era assim a grafia inicial) me
explicariam tudo.
Bem que o síndico de pijama
bege e trezoitão em punho tentou acabar com a "embaixada"
cósmico-universal-pernambucana, o quarto e sala da Frei Caneca. Sim, a trilha sonora era
muito Hosana nas alturas, glória. Quando saiu "Da Lama ao
Caos", audiência inaugural,
pense no silêncio dos tambores
da Nação! Fui expulso de vez
do prédio.
Inesquecível madruga com
du Peixe, Lucio e Chico. Falamos de amores distantes e Corto Maltese, que inspiraria mais
adiante, com a sua HQ que
aborda Lampião, a música "Tiro Certeiro". Ufa, como é bom
passar no ferro quente da memória as brasas nunca
adormecidas!
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