São Paulo, sábado, 18 de setembro de 2010

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Mostra traz outra faceta de Ernesto Neto

Em "Dengo", que começa hoje no MAM-SP, artista incorpora elementos reais ao trabalho, como latas e balas

Nova estética, inspirada em coco vendido em Copacabana, bebe na fonte da informalidade da cultura popular


FABIO CYPRIANO
DE SÃO PAULO

"Dengo", a mostra que Ernesto Neto apresenta, a partir de hoje, no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM) representa uma grande transformação em sua carreira.
Artista conhecido por criar ambientes compostos por um design orgânico com tecidos elásticos e cheiros de especiarias, como o terreiro que está sendo montando na 29ª Bienal, Neto abandona essa estética neutra ao incorporar em seu trabalho elementos reais, como instrumentos musicais, latas de cerveja ou doces e balas.
"Tudo começou quando fui num desses quiosques novos na praia de Copacabana e estavam vendendo água de coco para ser bebida por canudinho, através de um buraco, e não mais com os cortes como sempre se fez e que sempre me fascinou", conta Neto.
O fato levou o artista a algumas conclusões: "Percebi que estavam usando saúde e segurança para destruir um acontecimento cultural que é o coco na praia carioca. Queriam até empacotar a água de coco e aí seria o fim mesmo".
Essa vontade civilizatória, segundo o artista, vai contra "a informalidade que é o espaço de mediação em nossa cultura, mas que é totalmente oposto à cultura ocidental." Por isso, Neto chegou a produzir o vídeo "Um Manifesto a Favor do Coco", há três anos e, agora, no MAM, incorpora em sua imensa instalação produtos comercializados por ambulantes.

INTELIGÊNCIA POPULAR
No entanto, esses elementos não entram com caráter ilustrativo em sua obra. "Eu me interesso pela inteligência popular. O povo brasileiro é tão inventivo, que é impossível seguir as regras aqui. Por isso, é preciso mostrar a beleza de nossa sociedade que consegue se construir além das instituições e do Estado."
Assim, "Dengo", com seus 70 metros de cumprimento, torna-se uma obra desdobrada em outras várias, "Camelocor", "Suaveselva", "DVDmixpeople" e "Camelototens", entre outras, cada uma com uma temática distinta. Construída toda em crochê e com várias cores, "Dengo" traz uma rara e complexa discussão sobre cultura brasileira.
Além de Neto, também é inaugurada hoje, na sala Paulo Figueiredo, do MAM, uma retrospectiva da obra de Raymundo Colares (1944-1986), com curadoria de Luiz Camillo Osório. O artista, que transita entre a arte pop e o construtivismo, se torna um ótimo contraponto à obra orgânica de Neto.


ERNESTO NETO - DENGO

ONDE Museu de Arte Moderna de São Paulo (pq. Ibirapuera, portão 3, tel. 0/xx/11/5085-1300)
QUANDO abertura hoje (para convidados), 19h; de ter. a dom., das 10h às 18h; até 19/12
QUANTO R$ 5,50




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