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Mostra traz outra faceta de Ernesto Neto
Em "Dengo", que começa hoje no MAM-SP, artista incorpora elementos reais ao trabalho, como latas e balas
Nova estética, inspirada em coco vendido em Copacabana, bebe na fonte da informalidade da cultura popular
FABIO CYPRIANO
DE SÃO PAULO
"Dengo", a mostra que Ernesto Neto apresenta, a partir de hoje, no Museu de Arte
Moderna de São Paulo
(MAM) representa uma grande transformação em sua
carreira.
Artista conhecido por criar
ambientes compostos por
um design orgânico com tecidos elásticos e cheiros de especiarias, como o terreiro
que está sendo montando na
29ª Bienal, Neto abandona
essa estética neutra ao incorporar em seu trabalho elementos reais, como instrumentos musicais, latas de
cerveja ou doces e balas.
"Tudo começou quando
fui num desses quiosques
novos na praia de Copacabana e estavam vendendo água
de coco para ser bebida por
canudinho, através de um
buraco, e não mais com os
cortes como sempre se fez e
que sempre me fascinou",
conta Neto.
O fato levou o artista a algumas conclusões: "Percebi
que estavam usando saúde e
segurança para destruir um
acontecimento cultural que é
o coco na praia carioca. Queriam até empacotar a água de
coco e aí seria o fim mesmo".
Essa vontade civilizatória,
segundo o artista, vai contra
"a informalidade que é o espaço de mediação em nossa
cultura, mas que é totalmente oposto à cultura ocidental." Por isso, Neto chegou a
produzir o vídeo "Um Manifesto a Favor do Coco", há
três anos e, agora, no MAM,
incorpora em sua imensa instalação produtos comercializados por ambulantes.
INTELIGÊNCIA POPULAR
No entanto, esses elementos não entram com caráter
ilustrativo em sua obra. "Eu
me interesso pela inteligência popular. O povo brasileiro é tão inventivo, que é impossível seguir as regras
aqui. Por isso, é preciso mostrar a beleza de nossa sociedade que consegue se construir além das instituições e
do Estado."
Assim, "Dengo", com seus
70 metros de cumprimento,
torna-se uma obra desdobrada em outras várias, "Camelocor", "Suaveselva",
"DVDmixpeople" e "Camelototens", entre outras, cada
uma com uma temática distinta. Construída toda em
crochê e com várias cores,
"Dengo" traz uma rara e
complexa discussão sobre
cultura brasileira.
Além de Neto, também é
inaugurada hoje, na sala
Paulo Figueiredo, do MAM,
uma retrospectiva da obra de
Raymundo Colares (1944-1986), com curadoria de Luiz
Camillo Osório. O artista, que
transita entre a arte pop e o
construtivismo, se torna um
ótimo contraponto à obra orgânica de Neto.
ERNESTO NETO - DENGO
ONDE Museu de Arte Moderna de
São Paulo (pq. Ibirapuera, portão
3, tel. 0/xx/11/5085-1300)
QUANDO abertura hoje (para
convidados), 19h; de ter. a dom.,
das 10h às 18h; até 19/12
QUANTO R$ 5,50
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