São Paulo, terça-feira, 18 de outubro de 2011

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traço seco

Tão premiado quanto mal-humorado, o prolífico quadrinista francês Lewis Trondheim vem ao Brasil para a Rio Comicon

Divulgação
Lewis Trondheim, que vem ao Rio

DIOGO BERCITO
DE SÃO PAULO

Célebre pelo mau humor tanto quanto pelo talento, Lewis Trondheim, 46, diz que hoje tenta ser amigável. "Mas continuo a comer crianças no café da manhã", brinca, em entrevista à Folha. "E a matar adultos no jantar."
O artista, bambambã do mercado franco-belga de HQs, traz agora esse sarcasmo ao Brasil. Ele participa da feira de quadrinhos Rio Comicon, que começa na quinta e vai até dia 23 de outubro.
O evento reunirá artistas vindos de diversos cantos do globo, representando estilos díspares como o europeu (caso de Trondheim), o americano, o japonês e o brasileiro.
O autor participa do debate "Panorama Francês" (leia abaixo) e fala sobre seu personagem Lapinot e HQs como "Donjon", publicada em parceria com o colega Joann Sfar ("O Gato do Rabino").
Fundador da editora L'Association, que publica autores de peso na Europa, como Marjane Satrapi ("Persépolis") e Jean-Claude Forest ("Barbarella"), Trondheim dificilmente dá entrevista.

GRAND PRIX
"Não tenho o que dizer sobre minha obra", resmunga. "Acho que ela fala por si só. Mas, às vezes, tento ser mais amigável, mais humano."
Leitores e críticos, porém, sempre têm o que comentar a respeito de seu trabalho.
E o que congratular também. Já premiadíssimo, em 2006 ele recebeu a maior loa das histórias em quadrinhos franco-belgas: o Grand Prix de la Ville d'Angoulême -maior troféu do festival de Angoulême (França), uma espécie de Cannes dos gibis.
Os méritos não o assustam. "É claro que não me sinto obrigado a ser bom. Estaria morto se me sentisse assim. Meu único objetivo é me divertir com o meu trabalho."
A julgar pelo tamanho da obra do artista, ele se diverte bastante. Trondheim é louvado pela alta produtividade, que lhe rendeu a fama de ser um dos quadrinistas mais prolíficos da França. O truque, conta, foi desenvolver um estilo minimalista.
"Na verdade, não sou um desenhista, mas um roteirista. Me meti a desenhar, a procurar atalhos para contar minhas histórias", diz.
"Encontrei um sistema mínimo de desenhos. Eles são o suficiente para que eu conte o que eu desejo." E há um ingrediente final: passar muito tempo sentado à prancheta. "Como realmente gosto de quadrinhos, não me importo de trabalhar o tempo todo."
O estilo de Trondheim, nessa busca pelos elementos mínimos do traço, criou personagens estilizados. Não que este seja um projeto artístico: "É porque sou preguiçoso".
"Gasto menos tempo para desenhar personagens com pontos no lugar dos olhos, sem cabelo e com quatro dedos em vez de cinco."

NEGÓCIO
Trondheim é um exemplo da impermeabilidade do mercado de gibis europeus: apenas alguns autores (como, Hergé, de Tintim) perpassam as fronteiras de seus países.
Ídolo na França, Trondheim é pouco traduzido no exterior.
"Sejamos claros: não tenho nenhum 'sonho americano'. O país dos quadrinhos é a França", avalia.
No mercado franco-belga, em que gibis são conhecidos como "bande dessinée" (banda desenhada), vulgo BD, o modelo de negócio é bastante diferente do americano.
Em vez de gibis de super-heróis, a França produz livros de capa dura voltados também para os adultos.
Mas, apesar de não ter um "sonho americano", Trondheim admite que, em alguns momentos inveja, o modelo dos "comics" nos EUA.
"Queria fazer tiras diárias de quadrinhos. Só que, na França, isso é impossível", ressente-se.
Se bem que... "Suponho que, se estivesse nos EUA, por espírito de contradição, iria querer fazer gibis no estilo europeu."



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