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FOLK ROCK
Neil Young retorna dócil e simplório
THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL
Cantor, músico e compositor que não se acomoda, imprevisível, Neil Young acabou canonizado. Não que seja injusto:
tocou no Buffalo Springfield; lançou dezenas de discos que iam do
rock mais áspero e ácido a baladas
plásticas e sutis; semeou o que viriam a ser chamados de "country
alternativo" (Wilco, Lambchop) e
de grunge (Nirvana, Mudhoney).
Assim, quando vem a notícia de
disco novo deste ícone canadense,
a expectativa é a melhor possível,
certo? Certo. O disco, com certeza, é bom, certo? Bem, não.
"Prairie Wind" acaba de chegar
às lojas brasileiras, e aqui Neil
Young, 60 recém-completados,
deixou os barulhos de guitarra de
lado para realizar um álbum acústico. Enquanto gravava e compunha as canções do disco, ele passou por uma cirurgia para combater um aneurisma cerebral. Isso
pouco depois da morte de seu pai.
Memória, a ameaça da morte,
amizade e a relação com o pai
preenchem "Prairie Wind". Esta
reaproximação com o folk gerou
comparações com "Harvest"
(1972) e "Harvest Moon" (1992),
dois dos melhores álbuns de
Young -e do rock em geral.
Mas o que temos aqui não é
bem assim. Uma das características de Neil Young, mesmo em
seus momentos mais mansos, é
um certo tratamento rústico de
suas melodias; em "Prairie Wind"
não há arestas, é tudo muito limpinho demais, dócil demais.
Young nunca foi artista que se
preocupou com hits, mas ele teve
os seus, como "Heart of Gold".
Aqui, nenhuma de suas dez canções consegue tamanho salto.
Há momentos bem bons, como
"The Painter", em que ao mesmo
tempo que descreve uma pintora
que "pega as tintas pelo ar", nos
lembra: "Se você seguir todos os
seus sonhos, pode se perder".
"This Old Guitar", confinada
num clima intimista, é o tipo de
balada que parece querer explodir. Em "Falling Off the Face of the
Earth", dirige-se ao pai: "Apenas
queria te dizer/ Você significa
muito para mim/ Isso pode soar
simplista/ Mas você é o mundo
para mim". E não precisa muito
mais do que a voz e um violão para ganhar qualquer um.
Mas, no restante do disco, Neil
Young soa simplório. Não são nada inspiradoras passagens como
"Felicidade, eu sei que ela vai te
encontrar/ E quando isso acontecer, espero que seja permanente"
("Here for You") ou "A última vez
em que vi Elvis/ Ele estava cantando uma canção gospel/ Você percebia que ele tinha o "feeling'/ E o
mundo todo cantava junto" ("He
Was the King"), embalada por
um coral sem-vergonha. "No
Wonder" é um arremedo de alma
blues; "Far from Home" é um
country conservador.
Não dá para chamar "Prairie
Wind" de disco ruim, até pela docilidade quase frágil com que se
apresenta, mas é um Neil Young
bem menor. Nos EUA, os fãs já
aguardam pela edição em DVD,
que trará cenas das sessões de gravação, áudio em qualidade superior e biografia de todos os participantes do disco.
Prairie Wind
Artista: Neil Young
Lançamento: Warner
Quanto: R$ 35, em média
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