São Paulo, sexta-feira, 18 de novembro de 2005

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FOLK ROCK

Neil Young retorna dócil e simplório

THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL

Cantor, músico e compositor que não se acomoda, imprevisível, Neil Young acabou canonizado. Não que seja injusto: tocou no Buffalo Springfield; lançou dezenas de discos que iam do rock mais áspero e ácido a baladas plásticas e sutis; semeou o que viriam a ser chamados de "country alternativo" (Wilco, Lambchop) e de grunge (Nirvana, Mudhoney). Assim, quando vem a notícia de disco novo deste ícone canadense, a expectativa é a melhor possível, certo? Certo. O disco, com certeza, é bom, certo? Bem, não.
"Prairie Wind" acaba de chegar às lojas brasileiras, e aqui Neil Young, 60 recém-completados, deixou os barulhos de guitarra de lado para realizar um álbum acústico. Enquanto gravava e compunha as canções do disco, ele passou por uma cirurgia para combater um aneurisma cerebral. Isso pouco depois da morte de seu pai.
Memória, a ameaça da morte, amizade e a relação com o pai preenchem "Prairie Wind". Esta reaproximação com o folk gerou comparações com "Harvest" (1972) e "Harvest Moon" (1992), dois dos melhores álbuns de Young -e do rock em geral.
Mas o que temos aqui não é bem assim. Uma das características de Neil Young, mesmo em seus momentos mais mansos, é um certo tratamento rústico de suas melodias; em "Prairie Wind" não há arestas, é tudo muito limpinho demais, dócil demais.
Young nunca foi artista que se preocupou com hits, mas ele teve os seus, como "Heart of Gold". Aqui, nenhuma de suas dez canções consegue tamanho salto.
Há momentos bem bons, como "The Painter", em que ao mesmo tempo que descreve uma pintora que "pega as tintas pelo ar", nos lembra: "Se você seguir todos os seus sonhos, pode se perder".
"This Old Guitar", confinada num clima intimista, é o tipo de balada que parece querer explodir. Em "Falling Off the Face of the Earth", dirige-se ao pai: "Apenas queria te dizer/ Você significa muito para mim/ Isso pode soar simplista/ Mas você é o mundo para mim". E não precisa muito mais do que a voz e um violão para ganhar qualquer um.
Mas, no restante do disco, Neil Young soa simplório. Não são nada inspiradoras passagens como "Felicidade, eu sei que ela vai te encontrar/ E quando isso acontecer, espero que seja permanente" ("Here for You") ou "A última vez em que vi Elvis/ Ele estava cantando uma canção gospel/ Você percebia que ele tinha o "feeling'/ E o mundo todo cantava junto" ("He Was the King"), embalada por um coral sem-vergonha. "No Wonder" é um arremedo de alma blues; "Far from Home" é um country conservador.
Não dá para chamar "Prairie Wind" de disco ruim, até pela docilidade quase frágil com que se apresenta, mas é um Neil Young bem menor. Nos EUA, os fãs já aguardam pela edição em DVD, que trará cenas das sessões de gravação, áudio em qualidade superior e biografia de todos os participantes do disco.


Prairie Wind
  
Artista: Neil Young
Lançamento: Warner
Quanto: R$ 35, em média


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