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CINEMA/"HERÓIS IMAGINÁRIOS"
Filme sem arrojo tranca crise familiar entre quatro paredes
PAULO SANTOS LIMA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Com "Gente como a Gente"
(80), Robert Redford dava as
costas para um cinema dos anos
50 e 60 que tratava a família como
sintoma de questões que iam
além das cercanias familiares,
herdeiro da dramaturgia de Tennessee Williams e Edward Albee,
na qual se partia do conflito para
falar, por exemplo, sobre a inversão de papéis no casamento, caso
de "Gata em Teto de Zinco Quente" (58). Os problemas dos personagens de Redford estavam entre
quatro paredes, mais precisamente na perda de um filho, e desconectados de um contexto que não
o de seus próprios personagens.
É o caso de "Heróis Imaginários", de Dan Harris, que repete,
25 anos depois, "Gente como a
Gente", também não levando a
crise doméstica de seus personagens a outras paradas e preferindo o talento dos atores à mise-en-scène. Não só, há também a perda
de alguém valoroso à imagem familiar, no caso, o prodigioso primogênito de uma família classe
média norte-americana. O pai,
grande apostador que era do sucesso do filho, cai em depressão
catatônica e aumenta sua birra ao
caçula. Este adolescente não estará de todo abandonado, já que
tem a mãe como sua fiel escudeira
e um amigo confidente que o
acompanha nas baladas.
Diante de tantos desajustes, jamais vistos como indícios de que
esta família precisa repensar sua
estrutura, fica claro que o caminho que a história tomará é de
que pai, mamãe tresloucada e caçula rebelde precisam acertar os
ponteiros. E a grande questão do
filme, a de que toda família precisa de um herói, mesmo imaginário, para se sustentar, são palavras
ao vento proferidas meia dúzia de
vezes por algum personagem.
O que nem seria de todo mau se
houvesse, ao menos, um arrojo
estético ou algo espetacular, como
a revelação do patriarca de "Festa
de Família", de Thomas Vinterberg, para citar um exemplo.
Ou, noutro caso, se divisarmos
o extraordinário "Guerra dos
Mundos", de Steven Spielberg, cineasta cuja filmografia tem na família uma certeza moral e inabalável e que com este filme faz o casamento entre drama familiar e
"disaster movie" para falar sobre
pai e filhos vagando por um mundo apocalíptico onde as relações
humanas estão arruinadas.
Daí que o valor de "Heróis Imaginários" está em ser mais um filme a engordar a grande lista de
produções atuais que tratam da
morte ou da destruição da célula
familiar como colapso de um
mundo. Um diagnóstico pertinente que não está nesta obra em
si, mas em sua existência numa
filmografia contemporânea.
Heróis Imaginários
Imaginary Heroes
Direção: Dan Harris
Produção: EUA/Alemanha/Bélgica,
2004
Com: Sigourney Weaver, Emile Hirsch
Quando: a partir de hoje no Frei Caneca Arteplex, Cine Morumbi e Lumière
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