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Crítica/artes plásticas/"Paralela 2006"
Recorte frágil encobre contradições
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
"Paralela 2006", que
tem sua temporada
encerrada amanhã,
é mais um showroom de 12 galerias paulistanas do que propriamente uma exposição.
Foi
assim desde o começo, em
2002, quando quatro galerias
(Casa Triângulo, Brito Cimino,
Fortes Vilaça e Luisa Strina) dividiram um galpão na Água
Branca. Daquela vez, já com o
nome "Paralela", o lado mercantil era mais óbvio: os artistas eram agrupados por galeria.
Em 2004, a segunda edição
cresceu no número de galerias.
Mais cinco entraram para o
grupo (Marília Razuk, Millan
Antonio, Nara Roesler, Thomas Cohn e Vermelho), e o curador Moacir dos Anjos aboliu
as representações por galeria e
apresentou só artistas nacionais. A exposição virou o contraponto de uma Bienal conservadora, que dividiu as obras
por suporte, e foi elogiada pelos
críticos, curadores e colecionadores que visitam o país em
tempos de Bienal.
Na edição atual, o total de galerias subiu para 12, e a diretora
do Paço das Artes, Daniela
Bousso, assina a curadoria, no
melhor local onde a mostra já
foi organizada: o pavilhão Armando de Arruda Pereira, sede
da histórica 2ª Bienal de SP,
que no próximo ano deve acolher acervos do Museu de Arte
Moderna de São Paulo e do Museu de Arte Contemporânea da
USP. Consta que, para a cessão
do prédio, as galerias tiveram
que doar obras à prefeitura.
Para o amplo local, a curadora optou por obras em grande
formato, opção um tanto sensacionalista, mas sintonizada
com as feiras de arte ao redor
do planeta. O apelo comercial é
óbvio também no recorte: só
artistas brasileiros. Esse provincianismo pode ser explicado
pelo afã de impressionar a nova
categoria de turistas: "os amantes das bienais estrangeiras".
Não deixa de ser contraditório
que galerias como Strina ou
Fortes Vilaça, que trabalham
com artistas estrangeiros, não
os apresentem na Paralela.
Se a mostra de fato apontasse
para um caráter original na arte
brasileira, seu objetivo estaria
justificado. Contudo, quem hoje se preocupa em encontrar na
arte uma categoria nacional?
Ou, então, por que a intenção
de definir como "a produção artística brasileira se articula ao
redor das questões postadas
pela arte no mundo atual", como escreve Bousso, senão para
se legitimar no mercado internacional? O tema torna-se ainda mais frágil ao lado de uma
Bienal que acabou com as representações nacionais.
O pior é que o selo "nacional"
serve para encobrir poéticas
tão distintas que, às vezes, se
tornam contraditórias. A diversidade pode ser salutar, mas, no
caso da "Paralela 2006", ela é
artificial: o que une os 146 artistas é fazer parte de uma das 12
galerias da exposição.
Alguns artistas abordam a
questão. A dupla Dias & Riedweg expõe "Bandeira", projeção da bandeira brasileira com
ventilador na frente, trabalho
crítico à idéia de representação
nacional, enquanto José Damasceno amontoa 300 carpetes em "Credit Carpet", Paulo
Climachauska expõe suas subtrações formando os animais
brasileiros representados em
notas de dinheiro, "Real", além
de uma proposta: o poodle para
notas de R$ 100. Mas é o nome
da série das duas fotos de Rochelle Costi que melhor traduz
o espírito da mostra: "Vende-se
Tudo". Ao menos há espaço para a autocrítica.
PARALELA 2006
Quando: até amanhã, das 10h às 21h
Onde: pavilhão Armando de Arruda
Pereira (pq. Ibirapuera, portão 10, av.
Pedro Álvares Cabral, tel. 0/xx/11/
7253-2546)
Quanto: entrada franca
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