São Paulo, sábado, 18 de novembro de 2006

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Crítica/artes plásticas/"Paralela 2006"

Recorte frágil encobre contradições

FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

"Paralela 2006", que tem sua temporada encerrada amanhã, é mais um showroom de 12 galerias paulistanas do que propriamente uma exposição.
Foi assim desde o começo, em 2002, quando quatro galerias (Casa Triângulo, Brito Cimino, Fortes Vilaça e Luisa Strina) dividiram um galpão na Água Branca. Daquela vez, já com o nome "Paralela", o lado mercantil era mais óbvio: os artistas eram agrupados por galeria.
Em 2004, a segunda edição cresceu no número de galerias. Mais cinco entraram para o grupo (Marília Razuk, Millan Antonio, Nara Roesler, Thomas Cohn e Vermelho), e o curador Moacir dos Anjos aboliu as representações por galeria e apresentou só artistas nacionais. A exposição virou o contraponto de uma Bienal conservadora, que dividiu as obras por suporte, e foi elogiada pelos críticos, curadores e colecionadores que visitam o país em tempos de Bienal.
Na edição atual, o total de galerias subiu para 12, e a diretora do Paço das Artes, Daniela Bousso, assina a curadoria, no melhor local onde a mostra já foi organizada: o pavilhão Armando de Arruda Pereira, sede da histórica 2ª Bienal de SP, que no próximo ano deve acolher acervos do Museu de Arte Moderna de São Paulo e do Museu de Arte Contemporânea da USP. Consta que, para a cessão do prédio, as galerias tiveram que doar obras à prefeitura.
Para o amplo local, a curadora optou por obras em grande formato, opção um tanto sensacionalista, mas sintonizada com as feiras de arte ao redor do planeta. O apelo comercial é óbvio também no recorte: só artistas brasileiros. Esse provincianismo pode ser explicado pelo afã de impressionar a nova categoria de turistas: "os amantes das bienais estrangeiras".
Não deixa de ser contraditório que galerias como Strina ou Fortes Vilaça, que trabalham com artistas estrangeiros, não os apresentem na Paralela.
Se a mostra de fato apontasse para um caráter original na arte brasileira, seu objetivo estaria justificado. Contudo, quem hoje se preocupa em encontrar na arte uma categoria nacional?
Ou, então, por que a intenção de definir como "a produção artística brasileira se articula ao redor das questões postadas pela arte no mundo atual", como escreve Bousso, senão para se legitimar no mercado internacional? O tema torna-se ainda mais frágil ao lado de uma Bienal que acabou com as representações nacionais.
O pior é que o selo "nacional" serve para encobrir poéticas tão distintas que, às vezes, se tornam contraditórias. A diversidade pode ser salutar, mas, no caso da "Paralela 2006", ela é artificial: o que une os 146 artistas é fazer parte de uma das 12 galerias da exposição.
Alguns artistas abordam a questão. A dupla Dias & Riedweg expõe "Bandeira", projeção da bandeira brasileira com ventilador na frente, trabalho crítico à idéia de representação nacional, enquanto José Damasceno amontoa 300 carpetes em "Credit Carpet", Paulo Climachauska expõe suas subtrações formando os animais brasileiros representados em notas de dinheiro, "Real", além de uma proposta: o poodle para notas de R$ 100. Mas é o nome da série das duas fotos de Rochelle Costi que melhor traduz o espírito da mostra: "Vende-se Tudo". Ao menos há espaço para a autocrítica.


PARALELA 2006  
Quando: até amanhã, das 10h às 21h
Onde: pavilhão Armando de Arruda Pereira (pq. Ibirapuera, portão 10, av. Pedro Álvares Cabral, tel. 0/xx/11/ 7253-2546)
Quanto: entrada franca


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