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A novela que virou moda
Visual hippie-chique de Cláudia Abreu em "Belíssima"
se torna sucesso nas vitrines populares e sofisticadas
LAURA MATTOS
VIVIAN WHITEMAN
DA REPORTAGEM LOCAL
Se a Bia Falcão de Fernanda
Montenegro fizesse um tour pelas
vitrines de qualquer shopping, ficaria possessa: "Eu não acredito
que os vestidos daquela vagabundinha viraram moda!", diria.
O visual ultrachique da vilã de
"Belíssima" é elogiado por telespectadores, mas o hit do verão, da
popular rua 25 de Março à sofisticada Oscar Freire, são os modelitos hippie-chique de Vitória
(Cláudia Abreu), a ex-menina de
rua que Bia quer destruir.
Desde a estréia, há um mês e
meio, a Central de Atendimento
ao Telespectador da Globo não
pára de receber ligações de gente
interessada nas roupas de Vitória.
No ranking das dez principais solicitações de figurinos, os três primeiros lugares ficam para roupas
da personagem de Cláudia Abreu.
Telespectadoras perguntam sobre a marca, o tecido, os bordados. Querem saber onde comprar. Não receberam respostas
animadoras no início: tudo o que
usou quando morava na ilha grega era produção própria da Globo, criada por Gogóia Sampaio.
Com 37 anos, ela é figurinista da
emissora desde 1990 e agora, com
sua assinatura em "Belíssima",
torna-se grife. Quem a levou para
a Globo e lhe ensinou os primeiros passos foi Marília Carneiro,
que lançou a moda das meias de
lurex com sapato de salto alto em
"Dancin" Days" (1978/79) e trabalha na emissora há 28 anos.
À Folha, Gogóia diz que sabia
que o visual de Vitória seria bem-sucedido, mas jamais imaginou
que faria tanto sucesso, mais do
que o de Bia Falcão. "O segredo é
a novidade. Mulher chique e elegante tem em todas as novelas."
A figurinista acha consagrador
o fato de os vestidos "bombarem"
na 25 de Março. "Isso mostra que
as pessoas estão gostando. Quem
deve ficar chateada é a Globo, que
não fatura com isso", brinca.
A inspiração veio dos contos de
fada. "Sempre imaginei a Vitória
como a gata borralheira que encontra um príncipe e depois enfrenta a bruxa. Por isso ela é leve,
solta, mas forte por dentro."
A mocinha usa vestidos leves,
de tecidos naturais, como o algodão e o linho, com detalhes bordados ou em renda (as sandálias
costumam ser rasteirinhas, outro
hit). Na ilha grega, predominavam lisos, com ar mais artesanal.
Em SP, incorporou tomara-que-caia e estampas industrializadas.
Continua romântica, mas ganhou
"cara" de cidade e aderiu a grifes.
Para Alcino Leite Neto, editor
de moda da Folha, o sucesso do
look se dá também pela forte relação com a personalidade da personagem. "Em "Belíssima", o mecanismo moralizador próprio das
novelas passa pela moda, e não só
pelos sentimentos. Vitória é a encarnação da simplicidade, da sensualidade natural e da autenticidade como modelo de vida. Por
isso o neohippie lhe cai tão bem,
com vestidos leves e estilo despojado. Num mundo cercado de luxo, de ambição e de prepotência,
ela circula como um anjo caído,
isto é: rebelde e elegante."
O "boom" do estilo tem a ver
com o fato de a própria novela ter
virado moda: 47 pontos de média
de audiência, ou seja, 2,5 milhões
de domicílios só na Grande SP.
Em fase inicial, é surpreendente.
Outro ponto: o hippie-chique e
os tecidos naturais já eram tendência para o verão. Vitória turbinou as vendas, especialmente em
fase de compras natalinas. Nas lojas, mulheres pedem "um vestido
igual ao da moça da novela" para
usar no Natal ou dar de presente.
"Quando estreou, tínhamos
poucos modelos desse estilo, e as
clientes começaram a pedir. Teve
uma que disse que ia ligar para a
Globo para descobrir onde comprar. Com a procura, fizemos
mais pedidos e passamos a colocá-los na vitrine", conta Cristina
Braga, 24, vendedora de uma loja
do shopping Higienópolis, em SP.
O figurino de "Belíssima" começou a ser pensado em janeiro,
quando Gogóia levou Sílvio de
Abreu para a SP Fashion Week.
Depois, o autor entregou à figurinista os perfis dos personagens, e
sua equipe saiu para um "arrastão" em lojas de SP, Rio e Belo
Horizonte. "Decidimos usar quase 100% de peças nacionais."
A prioridade é para paulistanas.
"O Sílvio e a Denise [Saraceni, diretora] deixaram claro que a novela seria uma homenagem a SP."
Segundo Gogóia, não há merchandising de estilistas, ou seja,
eles não pagam para que suas
roupas sejam mostradas. Abaixo,
Gogóia comenta outros hits do figurino. E revela algumas grifes:
Bia Falcão -"Ela tem a ver com
Huis Clos misturado com coisas
modernas. Da Neon, tem uns
mantôs telhas, com um brochão
do Antonio Bernardo. Brinco que
essa mulher não olha a "Vogue", é
a "Vogue" que olha para ela. Um
acessório pode ter sido comprado
num museu da Polônia. É uma
mulher do mundo, não entraria
na Daslu. Não tem tempo. Quem
vai à Daslu tem disponibilidade."
Ornela (Vera Holtz) - "Essa é dasluzete. É descontrolada, vítima da
moda. Faz sucesso por causa disso, da liberdade. Se gosta, usa. As
mulheres com manequins acima
de 44 estão felizes. A Vera é bem
acima de 44, e pedimos para algumas marcas desenvolverem roupas para ela, como a Madame X.
Também veste Le Lis Blanc. Usa
rosa e um cabelão loiro, apesar da
idade. Em SP, isso é comum.
Júlia (Glória Pires) - "Na mudança de visual, o Sílvio não quis uma
coisa à Júlia [Sônia Braga] em
"Dancin" Days", mas algo leve. Coloquei, então, uns vestidos, uma
coisa mais mocinha. O do casamento foi Reinaldo Lourenço."
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