São Paulo, domingo, 18 de dezembro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

A novela que virou moda

Visual hippie-chique de Cláudia Abreu em "Belíssima" se torna sucesso nas vitrines populares e sofisticadas

LAURA MATTOS
VIVIAN WHITEMAN
DA REPORTAGEM LOCAL

Se a Bia Falcão de Fernanda Montenegro fizesse um tour pelas vitrines de qualquer shopping, ficaria possessa: "Eu não acredito que os vestidos daquela vagabundinha viraram moda!", diria.
O visual ultrachique da vilã de "Belíssima" é elogiado por telespectadores, mas o hit do verão, da popular rua 25 de Março à sofisticada Oscar Freire, são os modelitos hippie-chique de Vitória (Cláudia Abreu), a ex-menina de rua que Bia quer destruir.
Desde a estréia, há um mês e meio, a Central de Atendimento ao Telespectador da Globo não pára de receber ligações de gente interessada nas roupas de Vitória. No ranking das dez principais solicitações de figurinos, os três primeiros lugares ficam para roupas da personagem de Cláudia Abreu.
Telespectadoras perguntam sobre a marca, o tecido, os bordados. Querem saber onde comprar. Não receberam respostas animadoras no início: tudo o que usou quando morava na ilha grega era produção própria da Globo, criada por Gogóia Sampaio.
Com 37 anos, ela é figurinista da emissora desde 1990 e agora, com sua assinatura em "Belíssima", torna-se grife. Quem a levou para a Globo e lhe ensinou os primeiros passos foi Marília Carneiro, que lançou a moda das meias de lurex com sapato de salto alto em "Dancin" Days" (1978/79) e trabalha na emissora há 28 anos.
À Folha, Gogóia diz que sabia que o visual de Vitória seria bem-sucedido, mas jamais imaginou que faria tanto sucesso, mais do que o de Bia Falcão. "O segredo é a novidade. Mulher chique e elegante tem em todas as novelas."
A figurinista acha consagrador o fato de os vestidos "bombarem" na 25 de Março. "Isso mostra que as pessoas estão gostando. Quem deve ficar chateada é a Globo, que não fatura com isso", brinca.
A inspiração veio dos contos de fada. "Sempre imaginei a Vitória como a gata borralheira que encontra um príncipe e depois enfrenta a bruxa. Por isso ela é leve, solta, mas forte por dentro."
A mocinha usa vestidos leves, de tecidos naturais, como o algodão e o linho, com detalhes bordados ou em renda (as sandálias costumam ser rasteirinhas, outro hit). Na ilha grega, predominavam lisos, com ar mais artesanal. Em SP, incorporou tomara-que-caia e estampas industrializadas. Continua romântica, mas ganhou "cara" de cidade e aderiu a grifes.
Para Alcino Leite Neto, editor de moda da Folha, o sucesso do look se dá também pela forte relação com a personalidade da personagem. "Em "Belíssima", o mecanismo moralizador próprio das novelas passa pela moda, e não só pelos sentimentos. Vitória é a encarnação da simplicidade, da sensualidade natural e da autenticidade como modelo de vida. Por isso o neohippie lhe cai tão bem, com vestidos leves e estilo despojado. Num mundo cercado de luxo, de ambição e de prepotência, ela circula como um anjo caído, isto é: rebelde e elegante."
O "boom" do estilo tem a ver com o fato de a própria novela ter virado moda: 47 pontos de média de audiência, ou seja, 2,5 milhões de domicílios só na Grande SP. Em fase inicial, é surpreendente.
Outro ponto: o hippie-chique e os tecidos naturais já eram tendência para o verão. Vitória turbinou as vendas, especialmente em fase de compras natalinas. Nas lojas, mulheres pedem "um vestido igual ao da moça da novela" para usar no Natal ou dar de presente.
"Quando estreou, tínhamos poucos modelos desse estilo, e as clientes começaram a pedir. Teve uma que disse que ia ligar para a Globo para descobrir onde comprar. Com a procura, fizemos mais pedidos e passamos a colocá-los na vitrine", conta Cristina Braga, 24, vendedora de uma loja do shopping Higienópolis, em SP.
O figurino de "Belíssima" começou a ser pensado em janeiro, quando Gogóia levou Sílvio de Abreu para a SP Fashion Week. Depois, o autor entregou à figurinista os perfis dos personagens, e sua equipe saiu para um "arrastão" em lojas de SP, Rio e Belo Horizonte. "Decidimos usar quase 100% de peças nacionais."
A prioridade é para paulistanas. "O Sílvio e a Denise [Saraceni, diretora] deixaram claro que a novela seria uma homenagem a SP."
Segundo Gogóia, não há merchandising de estilistas, ou seja, eles não pagam para que suas roupas sejam mostradas. Abaixo, Gogóia comenta outros hits do figurino. E revela algumas grifes:

Bia Falcão -"Ela tem a ver com Huis Clos misturado com coisas modernas. Da Neon, tem uns mantôs telhas, com um brochão do Antonio Bernardo. Brinco que essa mulher não olha a "Vogue", é a "Vogue" que olha para ela. Um acessório pode ter sido comprado num museu da Polônia. É uma mulher do mundo, não entraria na Daslu. Não tem tempo. Quem vai à Daslu tem disponibilidade."

Ornela (Vera Holtz) - "Essa é dasluzete. É descontrolada, vítima da moda. Faz sucesso por causa disso, da liberdade. Se gosta, usa. As mulheres com manequins acima de 44 estão felizes. A Vera é bem acima de 44, e pedimos para algumas marcas desenvolverem roupas para ela, como a Madame X. Também veste Le Lis Blanc. Usa rosa e um cabelão loiro, apesar da idade. Em SP, isso é comum.

Júlia (Glória Pires) - "Na mudança de visual, o Sílvio não quis uma coisa à Júlia [Sônia Braga] em "Dancin" Days", mas algo leve. Coloquei, então, uns vestidos, uma coisa mais mocinha. O do casamento foi Reinaldo Lourenço."


Texto Anterior: Programação de TV
Próximo Texto: Mônica Bergamo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.