Desprezado pelos festivais do Rio e de Brasília, filme vai competir nos EUA

Produção do Brasil, Espanha e Polônia, longa foi rodado na América Latina, por diretor brasileiro que vive há 20 anos na Inglaterra

FERNANDA EZABELLA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O filme "Carmo" tem nome de santa e surge como um milagre na vida do diretor, um paulistano anônimo no Brasil, segundo ele próprio.
Murilo Pasta, 47, mora há 20 anos na Inglaterra. Firmou-se, depois de uma década de perrengues no exterior, como diretor de minisséries na TV britânica. Agora, lança seu primeiro longa, um filme feito entre fronteiras na América Latina. A obra foi recusada nos festivais de Brasília e do Rio deste ano, mas foi selecionada para a competição internacional do Festival Sundance, de filmes independentes, que acontece em janeiro, em Utah (EUA).
O filme é sobre um amor bandido, em meio a paisagens bucólicas do Mato Grosso do Sul, pelas estradas com Paraguai e Bolívia. É onde Judas perdeu "las buetas", como explica, em portunhol, Carmo, a protagonista bela e entediada do interior, ao anti-herói, um contrabandista espanhol cadeirante.
"Foi um clientelismo esdrúxulo dos festivais brasileiros. Um provincianismo que não cabe mais", disse Pasta sobre a rejeição. "Mas, graças a deus, Sundance selecionou."
"O filme esteve para se desintegrar em vários momentos", disse o diretor e roteirista, que passou três anos atrás de financiamento e perdeu os direitos do longa para os três produtores, que são do Brasil, Espanha e Polônia. "Carmo" tem previsão de estréia no país até junho.

Um outro milagre
Mas Sundance não é o único milagre a que se refere Pasta. Diretor e protagonista, a atriz Mariana Loureiro ("Abril Despedaçado", "Garotas do ABC"), se conheceram por causa de "Carmo", casaram na seqüência e conceberam a filha de nove meses no último dia das filmagens, em Jujuy, província ao norte da Argentina.
"Rolou muita pressão dos produtores para colocar uma atriz, digamos assim, conhecida. E eu resisti bravamente. Foi complicado. Ela é uma atriz bárbara, não sei por que cargas d'água ainda não estourou."
No filme, Carmo tem 22 anos e foge de casa -para desespero da mãe beata, interpretada por Rosi Campos. Carmo cruza com Marco, o personagem paraplégico feito pelo ator espanhol Fele Martinez ("Fale com Ela"), e juntos vão em busca de uma mercadoria roubada. No caminho, enfrentam dois bandidos excêntricos, papéis de Seu Jorge (um gay ninfomaníaco) e Márcio Custódio. Zeca Baleiro faz uma ponta, como músico de beira de estrada.
Pasta, que saiu do Brasil para viver de cinema após se formar pela ECA-USP, chegou a trabalhar como lanterninha de cinema e bilheteiro, enquanto fazia mestrado em roteiro em Londres. Hoje, tem no currículo séries da TV inglesa, como "Casualty" e "Grange Hill", e uma indicação ao Bafta em curta.
Ele pretende rodar em abril seu segundo longa, "Head over Heels", uma "comédia romântica excêntrica", falada em inglês. O filme será ambientado em Barcelona.


Texto Anterior: Frase
Próximo Texto: Mais um filme brasileiro vai a Sundance
Índice