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TELEVISÃO
Crítica
Chaplin sobrepõe indústria com lirismo
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
"Tempos Modernos" (Futura, 23h30; livre) é um filme
sem palavras. Um filme mudo,
embora feito em 1936, porque
Charlie Chaplin nunca admitiu
que seu personagem Carlitos
falasse.
Faz todo sentido, não só porque Carlitos é todo mímica, como porque Carlitos é um anacronismo. O mendigo cheio de
nobreza, o fraco que vinga os
fracos, o pobre que se orgulha
da humildade: esse personagem não pode resistir aos tempos modernos -nem ao cinema falado.
O lirismo um pouco ingênuo
do fulano, também vivido por
Chaplin, que se apaixona pela
florista cega e por quem a florista se apaixonará justamente
por ser cega, por somente enxergar a alma da pessoa, não
convém a uma era de maquinismo triunfante.
Carlitos sabe que a indústria
não veio para servir ao homem,
mas, ao contrário, para que ele
a sirva.
Por isso dá aqui seu último e
genial grito, misturando humor de primeira, sentimento e
sentimentalismo, observação
do mundo tal como visto da fábrica, pelo operário.
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