São Paulo, sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

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Sutil Cia. faz "vestibular" para novo espetáculo

Grupo de Felipe Hirsch recebe quase 1.500 inscrições para processo de seleção

Companhia busca atores e profissionais de iluminação, figurino e operação de som, entre outros; conto de Mark Twain é ponto de partida


LUCAS NEVES
DA REPORTAGEM LOCAL

Corre à boca pequena nas coxias que os vestibulares de medicina, publicidade e relações internacionais são "fichinha". É que, fosse um teste para entrar na USP, o processo seletivo da nova peça da Sutil Cia. seria de longe o mais concorrido da Fuvest 2010, desbancando os cursos que lideram o ranking oficial de candidatos por vaga.
Para integrar o elenco ou a equipe de produção da companhia (de "A Vida É Cheia de Som e Fúria" e "Avenida Dropsie"), um concorrente terá de superar outros 54 -na faculdade de medicina da USP, cada vaga tem 41,78 postulantes.
Vinte e seis postos estão em disputa: cinco no elenco principal, três na figuração, seis no estágio de atuação e 12 nos bastidores (assistência de direção, iluminação e cenografia, para citar alguns). Trezentas e cinquenta pessoas se inscreveram na seletiva de Curitiba, onde a companhia foi fundada e ensaia. A etapa de São Paulo -onde o espetáculo estreia, em 25/ 3- fez o total subir para 1.450.
As audições acontecem hoje e amanhã. Se as estatísticas do "vestibular" da Sutil fazem pensar nas peneiras de elenco de musicais importados da Broadway, as habilidades exigidas são de ordem bem distinta.
"Não vou pedir para que dancem na minha frente", brinca o diretor Felipe Hirsch. "É uma seleção sem pretensão. A ideia é descobrir pessoas novas, conhecer jovens atores que tenham um perfil próximo ao da Sutil. Ou seja, que coloquem a arte em primeiro plano, apesar de todas as dificuldades."
Ele ainda deixa escapar a dica: "Quem souber falar sobre [os escritores americanos John] Fante (1909-1983) e J.D. Salinger está dentro".

Twain é "pavio" da peça
O último, aliás, aparece na bibliografia indicada à turma que passará pelas audições: são dele o conto "Um Dia Perfeito para Peixe-Banana" e a novela "Franny e Zooey".
Mas a montagem propriamente dita pouco terá a ver com o autor de "O Apanhador no Campo de Centeio". O núcleo duro da companhia, completado pela cenógrafa Daniela Thomas, pelo iluminador Beto Bruel e pelos atores Guilherme Weber (que não estará no novo espetáculo) e Erica Migon, desde novembro se debruça sobre o conto "My Platonic Sweetheart" (meu amor platônico), de Mark Twain (1835-1910).
Na história, um homem tem o mesmo sonho por 40 anos: uma menina de 15 sempre encontra o narrador, de 17. A voz parece ser do próprio Twain, que gostava de descrever com minúcias as imagens que lhe ocorriam no sono.
"É só um pavio", diz Hirsch, avisando que, soprado pela memória emocional dos atores, o rumo da peça pode ir parar a léguas de distância do conto.
Aos candidatos do "vestibular Sutil", um estímulo derradeiro: quatro ou cinco selecionados podem ser incorporados em caráter definitivo aos quadros da companhia.


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