São Paulo, sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

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Crítica/ "A Vida Íntima de Pippa Lee"

Diretora retrata protagonista em três momentos íntimos

Vaivém no tempo apresenta a personagem, que precisa se adaptar à mudança para nova cidade por causa do marido

SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA

Filha do dramaturgo Arthur Miller (1915-2005) e mulher do ator Daniel Day-Lewis, Rebecca Miller, 47, precisa olhar para o espelho se quiser reclamar das adaptações de seus romances para o cinema: foi ela quem as escreveu e dirigiu, dando origem a "O Tempo de Cada Um" (02) e "A Vida Íntima de Pippa Lee" (09).
Das distribuidoras brasileiras, ela talvez pudesse reclamar dos títulos. No primeiro caso, a versão em português não foge tanto do sentido original, "Personal Velocity" (velocidade pessoal).
Já o plural no título do segundo, "The Private Lives of Pippa Lee" (as vidas privadas de Pippa Lee), foi para o espaço na tradução.
A ideia de "vidas" é crucial para a história, que promove vaivém no tempo para apresentar a protagonista, interpretada por Madeline McNulty na infância, Blake Lively na juventude e Robin Wright Penn na maturidade (as duas últimas também estão no elenco de "Nova York, Eu te Amo", outra estreia da semana).
Aos 50 anos, Pippa Lee dá a impressão de que atingiu a estabilidade emocional. Mulher de um editor de livros (Alan Arkin) e mãe de dois jovens independentes (Ryan McDonald e Zoe Kazan), ela precisa se adaptar à mudança para uma pequena cidade, feita em nome da saúde do marido, bem mais velho e decidido a se aposentar.
Enquanto flashbacks reconstituem como foi que a jovem Pippa se aquietou para chegar até ali, personagens fora do círculo familiar (em especial os interpretados por Winona Ryder e Keanu Reeves) vivem situações que tornam o terreno novamente movediço. Miller, a escritora, se movimenta muito bem nele; Miller, a cineasta, um pouco menos.

Entranhas
Diretora e roteirista também de "Angela" (95), sobre as relações entre duas irmãs, e de "O Mundo de Jack & Rose" (05), sobre um pai (Day-Lewis) que manteve a filha isolada do mundo em uma fazenda, Miller tem uma especial predileção por observar entranhas familiares -que movem ainda as protagonistas de "O Tempo de Cada Um".
Seu olhar, visceralmente feminino, destaca a dificuldade em lidar com papéis que a sociedade norte-americana atribui às mulheres e com desejos que, sufocados, geram conflitos e frustrações. Inquietas, suas personagens buscam saídas, mesmo que às vezes não vislumbrem onde elas se encontram.


A VIDA ÍNTIMA DE PIPPA LEE

Direção: Rebecca Miller
Com: Robin Wright Penn, Alan Arkin, Winona Ryder
Produção: EUA, 2009
Onde: Unibanco Arteplex Frei Caneca, Bristol, Cine Uol e circuito
Classificação: 16 anos
Avaliação: regular




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