São Paulo, sábado, 18 de dezembro de 2010

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CRÍTICA COLETÂNEA

Reflexão sobre Istambul é o ponto forte de "Outras Cores"

Orhan Pamuk, Prêmio Nobel de Literatura, investiga paradoxos da cidade

RAUL JUSTE LORES
EDITOR DE MERCADO

Istambul tem a sorte de ser banhada por mar por quase todos os lados, de se equilibrar entre Europa e Ásia e de ter 2.000 anos consecutivos como capital de impérios com um patrimônio histórico e artístico bem preservado.
Toda essa complexidade ganhou um divulgador especial e sofisticado nos últimos anos.
Orhan Pamuk, 58, escreve sobre o presente e o passado recente da maior cidade da Turquia e seus oito principais livros já venderam 7 milhões de exemplares em 50 idiomas pelo mundo.
Ganhou o Prêmio Nobel de Literatura em 2006, aos 54 anos, um rapazote nesse exclusivo clube. Em "Outras Cores - Ensaios e um Conto", Pamuk continua a trabalhar suas memórias como no belo "Istambul", publicado aqui em 2007, diz como a literatura já lhe deu de volta a vida ("literatura é remédio") e ainda tenta explicar os paradoxos de pertencer à elite laica e ocidentalizada da mais europeia cidade turca, mas que ao mesmo tempo é tratada como exotismo orientalista no resto do continente.
Como qualquer coletânea, feita com artigos e ensaios publicados com propostas e épocas distintas, o livro é irregular -mas as dezenas de pequenos fragmentos não sonegam a elegância da prosa do autor nem deixam de lado suas obsessões.
Ele faz ensaios exclusivos para falar de seus autores favoritos (Camus, Vargas Llosa, Nabokov, Bernhard), mas o melhor do livro traz as reminiscências na metrópole.

POLÊMICAS
Pamuk conta como foi acordado de madrugada pelo terremoto de Izmit em 1999 -e como decidiu ir à cidade em escombros, achando que poderia salvar alguém.
Nostálgico, fala das balsas que cruzavam o Bósforo e reclama de fast food.
O sucesso internacional tem preço. Para alguns intelectuais turcos, Pamuk é um orientalista para consumo ocidental, que estourou nas capitais ocidentais após o 11 de Setembro de 2001.
E que sua coroação, com Nobel incluído, veio com o processo que o governo turco moveu contra ele por atentar contra "a identidade turca", após uma entrevista em que o escritor falou do genocídio armênio, tabu no país.
No ensaio "Em Julgamento", Pamuk fala que a liberdade de expressão ainda é maior tabu que o genocídio ocorrido em 1915.
Ainda que inferior a seus romances, "Outras Cores" é uma visita privilegiada aos bastidores de Pamuk, um "making of" de um dos mais interessantes escritores contemporâneos.

OUTRAS CORES - ENSAIOS E UM CONTO

AUTOR Orhan Pamuk
EDITORA Companhia das Letras
TRADUÇÃO Berilo Vargas
QUANTO R$ 57 (480 págs.)
AVALIAÇÃO bom


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