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Ronaldo Fraga se inspira em Drummond
JACKSON ARAUJO
EDITOR-ASSISTENTE DA REVISTA MODA
Depois de encantar o público da
São Paulo Fashion Week em julho
passado, com sua coleção tropicalista de verão inspirada no cantor
baiano Tom Zé, o estilista mineiro
Ronaldo Fraga mostra hoje seu
inverno 2005 motivado pela obra
do poeta e escritor também mineiro Carlos Drummond de Andrade (1902-1987).
"O ponto de partida é o famoso
poema "Todo Mundo e Ninguém", em que o personagem Todo Mundo dialoga com o Ninguém, mediados por Belzebu",
explica o estilista.
O desfile acontece hoje na sala 3,
a partir das 15h30. Leia a seguir
conversa com o estilista.
Folha - Qual a diferença entre
olhar para Tom Zé e agora para a
obra de Carlos Drummond de Andrade?
Ronaldo Fraga - No verão falei de
otimismo com Tom Zé, agora falo
de preciosismo com Drummond.
A idéia é tratar de coisas cujo valor não tem preço. É o fim do luxo
explícito.
Folha - De que maneira a obra de
Drummond influenciou o seu trabalho?
Fraga - Busco o valor das sensações, que é o que sinto na obra dele. Ele se fez sentir pela simplicidade, usando palavras do vocabulário do homem comum. A inspiração para a coleção não vem da figura de Drummond ou de suas
roupas: ele usou bege e cinza a vida inteira; só quando estava perto
de morrer foi usar jeans e tênis. O
jeans, aliás, entra pouquíssimo no
desfile, apesar de eu estar licenciando uma linha de índigo pelo
grupo da marca capixaba Lei Básica, para quem eu também desenho.
Folha - Como é a coleção?
Fraga - É uma tentativa de diálogo com o tempo em que estamos
vivendo. Meu maior desafio foi
não fazer uma coleção retrô. Como Drummond, quero falar de
todo o tempo e não falar de tempo
nenhum. No desfile, uma blusa
romântica tipo anos 50 aparece
com uma calça desestruturada
dos anos 80, por exemplo. Vou
mostrar 32 looks, entre masculino
e feminino, sem preocupação
com unidade de grupo. Cada look
é um look. A marca da coleção são
imagens de árvores, frondosas,
sem folhas e secas. Eu procurei
usar tecidos que pareçam estar
em extinção.
Folha - Você usa textos do escritor como estampas?
Fraga - Apesar de a família dele
ter liberado toda a obra para a minha coleção, não há estampas de
texto. Quero usar a clássica tipologia de Drummond no labirinto
de páginas escritas que compõe a
cenografia.
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