São Paulo, quinta-feira, 19 de janeiro de 2006

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Em busca do ouro

Ana Ottoni - 14.set.2005/Folha Imagem
O diretor Breno Silveira, que tenta vaga no Oscar de filme estrangeiro


Diretor de "2 Filhos de Francisco" se lança na campanha ao Oscar de filme estrangeiro e faz aposta na tradição de "azarão" do filme sertanejo

SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL

O diretor Breno Silveira anda vivendo entre o Rio de Janeiro e Los Angeles. "Em dezembro, fui para lá três vezes em menos de 20 dias. Como são seis horas de fuso, hoje sou um cara que não durmo", diz.
Na cidade dos sonhos, Silveira corre atrás do seu. Quer uma indicação ao Oscar de melhor filme estrangeiro para "2 Filhos de Francisco", seu primeiro longa de ficção e campeão absoluto de bilheteria no Brasil em 2005 (5,3 milhões de espectadores).
A peleja do cineasta é para mostrar o filme ao maior número possível de membros da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood (os votantes do Oscar) e, obviamente, seduzi-los com a história da dupla sertaneja Zezé di Camargo & Luciano.
Ilustre desconhecido na capital mundial do cinema, Silveira experimenta o peso do anonimato e a sensação de ser "o primo pobre" da festa. "É difícil reunir todo mundo que você quer na sessão. E, se ninguém sai para ir ao banheiro ou atender o celular durante o filme, já é um gol."
A campanha pela indicação do candidato brasileiro ao Oscar tem um investimento considerado modesto para o tamanho do objetivo. Estão sendo gastos com a promoção do título nos Estados Unidos US$ 150 mil (R$ 343 mil), reunidos com apoio do Itamaraty e de patrocinadores privados.
"A gente sente a diferença para a campanha da França, em que o governo investiu 1 milhão [na indicação de "Joyeux Noel", de Christian Carion]. Mas seria ridículo eu pedir o mesmo. Nem acho justo o que eles fazem", diz.
Se o resultado do Globo de Ouro servir como prenúncio, a França está gastando dinheiro à toa. O palestino "Paradise Now", de Hany Abu-Assad, derrotou "Joyeux Noel" na última segunda.
No entanto, pelo mesmo critério, "2 Filhos de Francisco" está fora do páreo. O filme não obteve sequer a indicação ao Globo de Ouro, embora tenha tentado.
Silveira sabe que não está remando a favor da maré. Mas acha que o desafio em Hollywood repete a história de seu longa no Brasil e opina que, quando se põe "o coração na parada", o resultado do jogo pode não ser o óbvio.
"Esse filme sempre foi azarão. Na [produtora] Conspiração [da qual é sócio] eu via "Casa de Areia" [de Andrucha Waddington, também sócio da Conspiração] captando, captando [dinheiro de patrocínio] e ninguém queria investir em "2 Filhos de Francisco'", diz.
A resistência, lembra Silveira, não foi apenas na fase de produção. Filme pronto, "as primeiras sessões de imprensa eram vazias", até que o longa estreou com estrondo e conquistou a audiência da classe média urbana, cuja disposição para assistir a um filme sertanejo era a grande interrogação da operação de lançamento.
O cineasta diz que deseja a indicação ao Oscar não só pelos reflexos que ela poderia ter em sua carreira mas também pelas chances que poderá acrescentar ao lançamento internacional do filme.
"Minhas pretensões não são dirigir lá fora, mas eu queria muito poder financiar meu novo filme no Brasil com mais facilidade. Sei que isso [o título de indicado ao Oscar] faz diferença", afirma.
Segunda passada, Silveira adicionou um reluzente item ao seu currículo. Ele deixou o festival de Palm Springs (dedicado a dar visibilidade a filmes que almejam competir no Oscar) com o Prêmio John Schlesinger, reservado a diretores estreantes e que "representem a promessa de uma grande carreira", segundo o festival. O Oscar divulga seus indicados no dia 31. Até lá, Silveira não dorme.


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