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ERUDITO NA MODA
Pano rápido
na passarela
da moda
MARCELO COELHO
COLUNISTA DA FOLHA
Pensei que fosse encontrar pessoas esquisitíssimas, usando bermudas de plástico e sapatos de
tungstênio. Mas quem circulava
pelo Pavilhão da Bienal não fugia
da normalidade paulistana. Onde
estariam as modelos espetaculares, as deusas de 13 anos?
Fui tomar um café. Enfim apareceu uma beldade: alta, rosto anguloso, cabelos longos, a maquiagem de mil cores destacando os
olhos ávidos de fome e de fama.
Olhei de novo, vi que era homem.
Outras surpresas: eu imaginava
que desfiles fossem em lugares estreitos e compridos, como um
corredor -o de Alexandre
Herchcovitch foi num vasto quadrado, como um rinque de patinação. O piso de cimento do Ibirapuera, conhecido dos skatistas,
fazia o papel de passarela.
Surgiram então umas boneconas de botas pretas altíssimas, como que tímidas, de olhar assustado, tentando parecer o mais vazio
possível. Nenhuma aparentava
arrogância, riqueza, pretensão;
havia até as que não eram bonitas.
Perninhas e bracinhos se soltavam de roupas bufantes, com roxos de abajur antigo; ou então de
uma nuvem de tecidos leves, estampados. As modelos se sucediam, carregando a parafernália
de zíperes dos sobretudos pretos,
como se temessem cair de algum
lugar onde o corpo já não estava
mais. Eu começava a gostar, mas
o desfile tinha acabado. Tudo durou uns 15 minutos. O tempo de
uma moda.
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