São Paulo, sexta-feira, 19 de janeiro de 2007

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Crítica

Atmosfera "cult" encobre o olhar pobre do cineasta

CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA

As imagens aéreas sobre as quais se apresentam os créditos de "12 Horas até o Amanhecer" levam a concluir que, sim, o filme é ambientado em São Paulo.
Nas cenas seguintes também se entende que a trama se passa nesta metrópole como poderia ser em qualquer outra, por uma razão simples: sua imagem se constitui ao modo do clichê.
A fragilidade do segundo longa dirigido pelo americano Eric Eason não se resume ao estereótipo do "olhar estrangeiro", como demonstra Lucia Murat em seu documentário homônimo sobre o modo como os americanos representam o Brasil.
Desde o roteiro, passando pela inexistente direção de atores e pela manjada fotografia em tons excessivos, predomina uma ambição desprovida de talento, incapaz de dar interesse a esse drama criminal.
A trama se concentra na oposição edipiana entre um americano dono de um bordel e seu filho, apaixonado pela mulher do pai. Uma maleta carregada de dólares e uma operação de tráfico incluem na mistura a presença de um imigrante nigeriano. Como estamos no Terceiro Mundo, um travesti com desejo de vingança se encarrega da tarefa de "deus ex machina", elemento externo que dá um fecho trágico ao drama.
Nos anos 80, tornou-se certa mania "cult" fazer referências ao filme noir, com seus personagens obscuros, sua amoralidade e suas tramas no submundo. Naqueles dias, São Paulo foi vista, em títulos como "Anjos da Noite", "Cidade Oculta" e "A Dama do Cine Shangai", como um cenário já pronto para esse tipo de referência.
Ao retomar uma proposta para lá de ultrapassada, "12 Horas até o Amanhecer" torna-se uma demonstração de como o "cult" muitas vezes não passa de "trash" (lixo) disfarçado.


12 HORAS ATÉ O AMANHECER  
Direção: Eric Eason
Distribuidora: Imagem (para locação)


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