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Crítica
Atmosfera "cult" encobre o olhar pobre do cineasta
CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA
As imagens aéreas sobre
as quais se apresentam
os créditos de "12 Horas
até o Amanhecer" levam a concluir que, sim, o filme é ambientado em São Paulo.
Nas cenas seguintes também se entende que a trama se passa nesta metrópole como poderia ser
em qualquer outra, por uma razão simples: sua imagem se
constitui ao modo do clichê.
A fragilidade do segundo longa dirigido pelo americano Eric
Eason não se resume ao estereótipo do "olhar estrangeiro",
como demonstra Lucia Murat
em seu documentário homônimo sobre o modo como os americanos representam o Brasil.
Desde o roteiro, passando pela
inexistente direção de atores e
pela manjada fotografia em
tons excessivos, predomina
uma ambição desprovida de talento, incapaz de dar interesse
a esse drama criminal.
A trama se concentra na oposição edipiana entre um americano dono de um bordel e seu
filho, apaixonado pela mulher
do pai. Uma maleta carregada
de dólares e uma operação de
tráfico incluem na mistura a
presença de um imigrante nigeriano. Como estamos no Terceiro Mundo, um travesti com
desejo de vingança se encarrega da tarefa de "deus ex machina", elemento externo que dá
um fecho trágico ao drama.
Nos anos 80, tornou-se certa
mania "cult" fazer referências
ao filme noir, com seus personagens obscuros, sua amoralidade e suas tramas no submundo. Naqueles dias, São Paulo foi
vista, em títulos como "Anjos
da Noite", "Cidade Oculta" e "A
Dama do Cine Shangai", como
um cenário já pronto para esse
tipo de referência.
Ao retomar uma proposta
para lá de ultrapassada, "12 Horas até o Amanhecer" torna-se
uma demonstração de como o
"cult" muitas vezes não passa
de "trash" (lixo) disfarçado.
12 HORAS ATÉ O AMANHECER
Direção: Eric Eason
Distribuidora: Imagem (para locação)
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