São Paulo, quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

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CRÍTICA FOLK

Novo duplo de Dylan é só para fãs doentes

Álbum reúne sessões realizadas para registrar as músicas antes que fossem gravadas para os discos de estúdio

CD É OBJETO PARA ESTUDIOSOS DA MÚSICA AMERICANA OU CURIOSIDADE PARA FÃS MAIS FERVOROSOS

Douglas R. Gilbert - 1.jan.1964/Redferns
Bob Dylan, então com 22 anos, toca baixo elétrico em um café em Woodstock, em janeiro de 1964; gravações do período saem agora em álbum duplo

IVAN FINOTTI
DE SÃO PAULO

Se a série Bootleg (pirata) de Bob Dylan já foi concebida como um objeto de fetiche endereçado a fãs do artista, essa nova edição, a nona, sobe um degrau no nível de fanatismo. "The Witmark Demos: 1962-1964" abrange gravações destinadas às empresas de registro musical.
Funcionava assim: Dylan compunha uma batelada de canções no início dos anos 1960. Gravava 13 delas em seu próprio álbum no estúdio profissional da gravadora Columbia. Antes de o disco sair, corria para a Leeds Music e gravava novamente as músicas, em um estúdio mais simples.
A gravação era passada para um copista, que transcrevia a letra, tirava as notas musicais e registrava oficialmente a canção. Com isso, a música: 1) estava protegida de possíveis plágios; 2) podia ser oferecida para cantores e grupos gravarem (os artistas as recebiam em acetatos, discos com pequena vida útil usados antes das fitas magnéticas e cassetes).

FRACASSO
Após o fracasso comercial de seu primeiro álbum ("Bob Dylan", lançado em 19 de março de 1962 e cujas vendas no período foram de 2.500 cópias), a Leeds perdeu o interesse por aquele folk ripongo. Em julho, Dylan foi à M.
Witmark & Sons e, ao mostrar "Blowin" in the Wind", ganhou um novo contrato.
O executivo que assinou com ele, Artie Mogull, conta no belo encarte que acompanha o álbum duplo: "Na época talvez eu fosse o único que prestava atenção nas letras.
Quando ouvi "How many ears must one man have before he can hear people cry?" (quantas orelhas um homem precisa ter até que ouça pessoas chorando?), eu disse: "Ok, é isso. Quero você. Te dou mil dólares de adiantamento por um contrato de sete anos (ou talvez fossem cinco) como autor'".
A partir de então, Dylan faria diversas sessões no estúdio da Witmark.
São essas gravações que podem ser ouvidas em "The Witmark Demos: 1962-1964".
Registros, algumas vezes apressados ("The Times They Are A-Changing"), outras próximas das originais lançados nos discos ("Dont Think Twice, It's All Right").
Algumas trazem apenas um esboço do que a canção se tornaria ("Mr. Tambourine Man") e raras apresentam mudanças significativas ("Baby, Let Me Follow You Down", muito mais gritada que na versão clássica).
Pelo menos uma, a inédita "Farewell", deixa saudades após a audição.
Mas, no geral, trata-se de Dylan sozinho ao violão, às vezes ao piano, às vezes com uma gaita, registrando canções. Fica bonito na estante, mas não passa de um fetiche.

THE WITMARK DEMOS:
1962-1964


ARTISTA Bob Dylan
LANÇAMENTO Sony
QUANTO R$ 49,90
AVALIAÇÃO regular


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