São Paulo, sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

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ANÁLISE

É possível comer animais com civilidade

JOSIMAR MELO
COLUNISTA DA FOLHA

Vai aí um churrasquinho de gato ou de cachorro? Ou um sashimi de baleia ou de foca?
A simples ideia de comer certos animais pode provocar vários tipos de rejeição. Nojo diante de bichinhos que parecem feitos para companhia ou para adornar a paisagem, não para o prato. Medo de que seu consumo leve à extinção da espécie. Horror pela forma cruel como são abatidos.
Os dois últimos argumentos fazem sentido, embora não sejam universais. Nem todos os animais estão em extinção (alguns só sobrevivem como espécie porque o homem os cria para comer); e a crueldade poderia ser eliminada (para golfinhos e para franguinhos).
Se algo pode diferenciar a humanidade na natureza não é o ato antinatural de recusar o alimento animal, mas sim o fato de consumi-lo civilizadamente: sem colocar em risco as espécies, e evitando o sofrimento, numa atitude de compaixão que deveria ser um diferencial civilizatório. Hoje, existem leis para que a criação e o abate sejam humanitários e a elas deveríamos estar todos atentos.
De resto, o olhar torto diante dos que comem baleia, cachorro ou foca, como se fosse uma crueldade, tem traços de hipocrisia. Que atire o primeiro arpão aquele que, no Ocidente "civilizado", nunca comeu carne de bois trucidados sem piedade, frangos criados pior que prisioneiros de Abu Ghraib ou queijo da soja que vem dizimando a floresta amazônica.


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