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ANÁLISE
É possível comer animais com civilidade
JOSIMAR MELO
COLUNISTA DA FOLHA
Vai aí um churrasquinho de
gato ou de cachorro? Ou um
sashimi de baleia ou de foca?
A simples ideia de comer certos animais pode provocar vários tipos de rejeição. Nojo
diante de bichinhos que parecem feitos para companhia ou
para adornar a paisagem, não
para o prato. Medo de que seu
consumo leve à extinção da espécie. Horror pela forma cruel
como são abatidos.
Os dois últimos argumentos
fazem sentido, embora não sejam universais. Nem todos os
animais estão em extinção (alguns só sobrevivem como espécie porque o homem os cria para comer); e a crueldade poderia ser eliminada (para golfinhos e para franguinhos).
Se algo pode diferenciar a humanidade na natureza não é o
ato antinatural de recusar o alimento animal, mas sim o fato
de consumi-lo civilizadamente:
sem colocar em risco as espécies, e evitando o sofrimento,
numa atitude de compaixão
que deveria ser um diferencial
civilizatório. Hoje, existem leis
para que a criação e o abate sejam humanitários e a elas deveríamos estar todos atentos.
De resto, o olhar torto diante
dos que comem baleia, cachorro ou foca, como se fosse uma
crueldade, tem traços de hipocrisia. Que atire o primeiro arpão aquele que, no Ocidente
"civilizado", nunca comeu carne de bois trucidados sem piedade, frangos criados pior que
prisioneiros de Abu Ghraib ou
queijo da soja que vem dizimando a floresta amazônica.
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