São Paulo, sábado, 19 de fevereiro de 2011

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O mestre dos magos

Anacrônico , extravagante e ultramoderno, romance cult abre portas para o mundo de Macedonio Fernández

PAULO WERNECK
EDITOR DA ILUSTRÍSSIMA

A recente fornada de livros argentinos não estaria completa sem Macedonio Fernández (1874-1952), ao mesmo tempo autor, leitor, personagem e mentor de Jorge Luis Borges. Amigo do pai de Borges, ele foi exaltado na obra do discípulo, ainda que de modo um tanto ambíguo.
Bem mais citado do que lido, tão periférico quanto central na literatura argentina, como assinala o crítico e ficcionista Damián Tabarovsky na apresentação, Macedonio faz parte de uma rara estirpe de autores "cult", alguns inéditos por aqui. O "Museu do Romance da Eterna" desembarca em edição experimental da Cosac Naify, em que a designer Elaine Ramos interpreta o extravagante universo macedoniano.
A publicação do livro, em 1967, de certo modo "traiu" os ideais de seu autor: morto 15 anos antes, ele almejava a um eterno ineditismo, anunciando constantemente aos amigos e discípulos um romance que jamais ficava pronto. A ideia alimentou o mito em torno de sua pessoa, reiterado em mistos de hagiografia e anedota que fizeram de Macedonio uma espécie de "mestre dos magos" das vanguardas argentinas. O folclore é vasto e um dos mais saborosos do racionalíssimo humor portenho.
O "Museu" já foi definido como "um software", uma "máquina de fabular". As primeiras notícias sobre o livro remontam aos anos 1920, na forma de um romance coletivo que Borges, Macedonio e amigos pretendiam escrever juntos. Macedonio escrevinharia o "Museu" ao longo de décadas, em cadernos e pedaços de papel.
Leitor de Macedonio, o escritor carioca Sérgio Sant'Anna disse à Folha que ele "brincou com a literatura a vida inteira como se brinca com uma amante". O "Museu" é um labirinto de prólogos que se sucedem, anunciando uma narrativa que nunca vem. Em vez de preparar o leitor para entrar no recinto do romance, eles constituem o próprio território da narrativa, jogo que Borges levaria ao ápice em sua obra.
Juntos, os dois fundaram, em pleno império do realismo, uma narrativa "antirrealista" -que hoje vem a ser providencial. Pois o século 21 "será macedoniano", nas palavras de Ricardo Piglia.


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