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CINEMA/"DOWN AND DIRTY PICTURES"
Obra esmiuça ascensão da Miramax
SÉRGIO RIZZO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
"Este negócio envolve ego e
cobiça. Harvey é o ego, e Bob,
a cobiça", diz Patrick McDarrah,
ex-executivo da Miramax, sobre a
bem-sucedida simbiose entre os
irmãos Weinstein, fundadores e
chefões da produtora e distribuidora que nasceu pequena, quase
caseira, e hoje é considerada "a
menor das grandes" no mundo
de Hollywood.
Às vezes, no entanto, ela parece
mais forte e importante do que as
megacorporações que dominam
o "negócio" ao qual se refere
McDarrah, uma das centenas de
fontes ouvidas pelo jornalista Peter Biskind para reconstituir a ascensão dos Weinstein em "Down
and Dirty Pictures - Miramax,
Sundance, and The Rise of Independent Film" (imagens baixas e
sujas - Miramax, Sundance e a ascensão do filme independente).
"Já foi dito que, se Hollywood é
como a Máfia italiana, os independentes se assemelham aos
mafiosos russos. Em ambos os casos, os vilões ganham dos mocinhos, mas em Hollywood eles fazem isso com um certo estilo",
compara Biskind. A truculência,
na Miramax, seria um atributo
público de Harvey, 53, dois anos
mais velho do que Bob.
Ao caçula, reservado e enigmático, caberia zelar pelo fluxo do
caixa e se certificar de que cada
projeto "dará dinheiro". Sua preferência por filmes baratos e de
apelo popular contrastaria com o
gosto de Harvey por superproduções de "prestígio", como "Cold
Mountain" e "Gangues de Nova
York".
Nascidos no Queens, em Nova
York, os Weinstein eram, segundo Biskind, "anomalias no mundo da distribuição independente". Enquanto seus pares começaram a atuar nos anos 70 em cineclubes universitários e salas de arte, eles se dedicavam à produção
de shows musicais.
"Todos nós refletimos o lugar
de onde viemos. No ramo musical, você precisa lutar pelo seu território e usar táticas intimidatórias", observa Tom Bernard, co-presidente da Sony Classics. Harvey e Bob compraram um teatro
em Buffalo, no fim dos anos 70, e
decidiram programar filmes para
"manter as poltronas quentes"
quando não houvesse show.
Mudaram-se para Nova York
em 1979. Em novembro do mesmo ano, Robert Redford hospedava cineastas em sua mansão de
Utah para uma conferência em
que a "nova Hollywood" -a geração que se instalou nos grandes
estúdios, na passagem dos anos
60 para os 70, e que Biskind retrata em seu livro anterior, "Easy Riders, Raging Bulls"- discutiu
seus rumos.
Redford lançava ali a semente
do Instituto Sundance, homenagem ao bandido romântico interpretado pelo ator em "Butch Cassidy". Fundada em 1981, a organização sem fins lucrativos que congregou os "independentes" promoveria, entre outras atividades,
o mais importante festival de cinema dos EUA.
Paralelamente, os Weinstein se
impunham como a principal distribuidora desse nicho. Biskind
trata Sundance e Miramax como
as "torres gêmeas" do cinema independente, responsáveis por
lançar sombras gigantes sobre os
demais.
Redford, ciente do enfoque, não
quis recebê-lo. Harvey tentou
convencê-lo a escrever outro livro, que "a Miramax Books teria
prazer em publicar", mas, por
fim, concordou em falar. Embora
se concentre neles, Biskind costura trajetórias de dezenas de personagens e descreve os bastidores
dos marcos dessa história.
Houve uma Palma de Ouro em
Cannes que reconheceu a onda
("Sexo, Mentiras e Videotape",
em 1989) e outra que registrou sua
inserção na lógica da indústria
("Pulp Fiction", em 1994). Entre
os dois prêmios, em 1993, a Disney absorveu a Miramax por US$
100 milhões, mas os irmãos mantiveram a autonomia para tocar
projetos e se associar a outros estúdios - "Shakespeare Apaixonado" (98), Oscar de melhor filme, foi parceria com a Universal.
Epílogo
O livro de Biskind não alcança,
infelizmente, o rumoroso epílogo
dessa união, ainda em pleno andamento e repleto de incógnitas.
A Disney -já em clima de "final
de governo" com a saída (marcada para setembro) de Michael Eisner, o controvertido presidente
do grupo- negocia detalhes do
rompimento de contrato com os
Weinstein. O ego e a cobiça, para
deleite de seus muitos inimigos,
vão começar tudo outra vez.
Down and Dirty Pictures - Miramax, Sundance, and The Rise of Independent Film
Autor: Peter Biskind
Editora: Simon & Schuster
Quanto: US$ 15/R$ 41 (544 págs.)
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