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Morricone rege clássicos do cinema
Na próxima segunda, no Alfa, maestro italiano apresenta trechos de músicas para filmes como "Era uma Vez no Oeste'
Com quase 500 trilhas compostas e um Oscar pela carreira, compositor afirma que não é autoritário com seu trabalho na tela grande
MÁRVIO DOS ANJOS
DA REPORTAGEM LOCAL
A história do compositor italiano Ennio Morricone, 79, no
cinema é extremamente abrangente. Quase 500 trabalhos para telona e telinha, outra centena de obras "absolutas".
Prestes a fazer na próxima
segunda-feira, no teatro Alfa,
seu segundo concerto no Brasil
(o primeiro foi no ano passado,
no Teatro Municipal do Rio),
não tem nenhum fascínio
quando revisita esses números.
"É necessário simplesmente
ter talento, só isso. Ser fiel à
música, ao filme, ao diretor, saber escrever a música, ter estudado bem a música. Todas as
coisas óbvias, simples e complicadas, juntas, que servem para
desenvolver bem essa profissão", afirma o compositor por
e-mail, a respeito de sua enorme produtividade. No entanto,
não poderá fazer a continuação
anunciada de "Os Intocáveis".
"Não terei tempo", diz.
Uma obra de fato extremamente difícil de ser classificada,
devido à enorme variação de
influências aproveitadas por
Morricone -justificada pela
palheta de diretores com quem
trabalhou, de Sergio Leone e
Pier Paolo Pasolini a Brian de
Palma e Terence Malick.
Incursões no jazz e no minimalismo e visitas a tradições
italianas que vão de operísticos
como Puccini a cinematográficos como Nino Rota são perceptíveis na música do romano
nascido em 1928. Uma vastidão
que Morricone trata como ferramentas necessárias quando
se compõe música a partir de
um argumento de outro.
"A música existe há muitos
séculos e ainda continua existindo. O compositor que vive a
sua época vive a música da sua
época assim como aquela do
passado. Tudo nasce da sua experiência, do seu amor pela história da música, seus estudos,
sua técnica e por tudo aquilo
que admira e ama", declara.
O italiano é um entusiasta do
trabalho em parceria. Mesmo
com a experiência, o nome e a
premiação adquiridos, afirma
que não é autoritário quando
por algum motivo sua trilha é
recusada pelo diretor.
"É normal que tenha uma
sintonia com o diretor. É claro
que a obra principal do diretor
e minhas propostas podem ser
muito boas, mas o diretor pode
não entendê-las imediatamente, porque não me apresento
para ele com uma orquestra.
Apresento-me com um piano.
Ele pode dizer: "Mude essa parte", e certamente mudamos. É
normal", declara. Indagado sobre que diretores já quiseram
alterações em partitura, Morricone não respondeu.
Concerto em SP
O programa que o italiano
apresentará em São Paulo é basicamente feito dos seus hits
para cinema. A primeira parte,
intitulada "A Vida e a Lenda",
desfilará alguns dos trabalhos
"americanos" mais conhecidos,
como os faroestes "Era Uma
Vez no Oeste" e "Três Homens
em Conflito" e as sagas mafiosas de "Era Uma Vez na América" e "Os Intocáveis". Além disso, abarca também o lirismo de
"Cinema Paradiso".
Na segunda parte do programa, será apresentado "O Cinema do Compromisso", um
Morricone mais realista e político, extraído de filmes como
"A Batalha de Argel" e "Sacco &
Vanzetti".
"Será apenas música de cinema", diz Morricone, que nega
que vá haver qualquer obra sua
não ligada à sétima arte. Pragmático, afirma que os motivos
são puramente comerciais.
"Essa música é menos conhecida, porque a música de cinema é muito mais apresentada ao público, que se diverte
mais, e vende mais discos."
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