São Paulo, quarta-feira, 19 de março de 2008

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Morricone rege clássicos do cinema

Na próxima segunda, no Alfa, maestro italiano apresenta trechos de músicas para filmes como "Era uma Vez no Oeste'

Com quase 500 trilhas compostas e um Oscar pela carreira, compositor afirma que não é autoritário com seu trabalho na tela grande

MÁRVIO DOS ANJOS
DA REPORTAGEM LOCAL

A história do compositor italiano Ennio Morricone, 79, no cinema é extremamente abrangente. Quase 500 trabalhos para telona e telinha, outra centena de obras "absolutas".
Prestes a fazer na próxima segunda-feira, no teatro Alfa, seu segundo concerto no Brasil (o primeiro foi no ano passado, no Teatro Municipal do Rio), não tem nenhum fascínio quando revisita esses números.
"É necessário simplesmente ter talento, só isso. Ser fiel à música, ao filme, ao diretor, saber escrever a música, ter estudado bem a música. Todas as coisas óbvias, simples e complicadas, juntas, que servem para desenvolver bem essa profissão", afirma o compositor por e-mail, a respeito de sua enorme produtividade. No entanto, não poderá fazer a continuação anunciada de "Os Intocáveis". "Não terei tempo", diz.
Uma obra de fato extremamente difícil de ser classificada, devido à enorme variação de influências aproveitadas por Morricone -justificada pela palheta de diretores com quem trabalhou, de Sergio Leone e Pier Paolo Pasolini a Brian de Palma e Terence Malick.
Incursões no jazz e no minimalismo e visitas a tradições italianas que vão de operísticos como Puccini a cinematográficos como Nino Rota são perceptíveis na música do romano nascido em 1928. Uma vastidão que Morricone trata como ferramentas necessárias quando se compõe música a partir de um argumento de outro.
"A música existe há muitos séculos e ainda continua existindo. O compositor que vive a sua época vive a música da sua época assim como aquela do passado. Tudo nasce da sua experiência, do seu amor pela história da música, seus estudos, sua técnica e por tudo aquilo que admira e ama", declara.
O italiano é um entusiasta do trabalho em parceria. Mesmo com a experiência, o nome e a premiação adquiridos, afirma que não é autoritário quando por algum motivo sua trilha é recusada pelo diretor.
"É normal que tenha uma sintonia com o diretor. É claro que a obra principal do diretor e minhas propostas podem ser muito boas, mas o diretor pode não entendê-las imediatamente, porque não me apresento para ele com uma orquestra. Apresento-me com um piano. Ele pode dizer: "Mude essa parte", e certamente mudamos. É normal", declara. Indagado sobre que diretores já quiseram alterações em partitura, Morricone não respondeu.

Concerto em SP
O programa que o italiano apresentará em São Paulo é basicamente feito dos seus hits para cinema. A primeira parte, intitulada "A Vida e a Lenda", desfilará alguns dos trabalhos "americanos" mais conhecidos, como os faroestes "Era Uma Vez no Oeste" e "Três Homens em Conflito" e as sagas mafiosas de "Era Uma Vez na América" e "Os Intocáveis". Além disso, abarca também o lirismo de "Cinema Paradiso".
Na segunda parte do programa, será apresentado "O Cinema do Compromisso", um Morricone mais realista e político, extraído de filmes como "A Batalha de Argel" e "Sacco & Vanzetti".
"Será apenas música de cinema", diz Morricone, que nega que vá haver qualquer obra sua não ligada à sétima arte. Pragmático, afirma que os motivos são puramente comerciais.
"Essa música é menos conhecida, porque a música de cinema é muito mais apresentada ao público, que se diverte mais, e vende mais discos."


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