São Paulo, sexta-feira, 19 de março de 2010

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Última Moda

ALCINO LEITE NETO, em Paris - ultima.moda@grupofolha.com.br

Saint Laurent total

Maior retrospectiva já realizada da obra do estilista morto há dois anos reúne em Paris cerca de 300 looks criados entre 1958 e 2002

E a grande estrela da última temporada de desfiles em Paris foi... Yves Saint Laurent, que morreu há dois anos, aos 71, vítima de um câncer no cérebro.
O estilista que ajudou a revolucionar a moda nos anos 60/ 70 tomou conta da cena fashion parisiense devido a uma portentosa exposição de sua obra e ao lançamento de vários livros a seu respeito, inclusive o emocionante "Lettres à Yves", do empresário Pierre Bergé, 77, companheiro de Saint Laurent por 50 anos (leia nesta pág.).
Também está sendo publicado um álbum de luxo, em quatro volumes, com 1.282 croquis do estilista. Chamado "Obra Integral", tem uma edição de apenas 500 exemplares e custa 2.100 (cerca de R$ 5.000).
A exposição foi aberta ao público no último dia 11 -e segue até 29 de agosto. No primeiro dia, antes mesmo da abertura das bilheterias, uma longa fila já se formara na entrada do Petit Palais. A espera para aceder ao belo palácio levava cerca de 40 minutos.
Trata-se da maior retrospectiva já realizada do trabalho de Saint Laurent, nascido na Argélia (então colônia francesa), filho de pais franceses. Em 15 salas, reúne cerca de 300 looks de alta-costura, feitos entre os anos 50 e 2002, quando ele se despediu da moda.
Mas a ordem de exibição não é rigorosamente cronológica. É sobretudo temática e se concentra mais na criação do que na biografia. Começa com os vestidos trapézio e outras peças para a maison Christian Dior, cuja direção de criação Saint Laurent assumiu em 1958, aos 21 anos -revelando-se um prodígio da alta-costura.
Um dos maiores espaços da mostra chama-se "Revolução dos Gêneros" e concentra as roupas inspiradas no estilo masculino. Estão lá os blazers, as sahariennes e os tailleurs-pantallons da década de 60, que explodiram as convenções do guarda-roupa da mulher e introduziram a moda na nova era feminista e do prêt-à-porter.
Na sala "Yves Saint Laurent e as Mulheres" foram dispostas roupas feitas para algumas das principais amigas e clientes do estilista, como Loulou de la Falaise, Paloma Picasso, Helène Rochas, Diana Vreeland, Grace Kelly, Lauren Bacall e Marie-Hélène de Rothschild.
A mais fiel dessas amigas, Catherine Deneuve, ganhou uma sala especial, com dez looks, inclusive os que foram criados para o filme "Bela da Tarde" (1967), de Luis Buñuel.
Outras duas seções arrebatam os amantes da moda: "As Viagens Imaginárias" e "No Espelho da Arte". Na primeira, estão peças de coleções baseadas em vestimentas tradicionais e exóticas de países como o Marrocos, a Rússia e a Índia.
A coleção africana é um assombro -e talvez impossível de ser superada. Boa parte das roupas dessa seção já foi vista no Brasil, em exibição ocorrida no Rio, há um ano.
"Espelho da Arte" traz exemplares de coleções que recriam quadros e temas de pintores como Matisse, Van Gogh e Picasso. Nela está o vestido de jersey de lã "Homenagem a Piet Mondrian", uma das roupas mais famosas de Saint Laurent.
Um paredão gigante encerra a mostra, com 40 modelos de smokings -outra ideia inédita do estilista para as mulheres-, criados entre 1966 a 2002.
Os looks mostrados são apenas uma pequena parcela do acervo de 5.000 peças guardadas pela Fundação Pierre Bergé-Yves Saint Laurent. "Desde o final dos anos 70, Saint Laurent arquivava tudo", disse a curadora da exposição, Florence Müller. Inovador do estilo, ele também foi um precursor na criação de acervos de moda.


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