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Bergé faz trabalho de luto em cartas a YSL
Saint Laurent tomou conta
das livrarias francesas, com
biografias, depoimentos e álbuns de arte.
Dois livros chamam a atenção: "Lettres à Yves" (cartas a
Yves), de Pierre Bergé (ed. Gallimard, 112 págs., 12), e
"Saint Laurent - Mauvais Garçon" (Saint Laurent -mau menino), de Marie-Dominique
Lelièvre (ed. Flammarion, 320
págs., 19).
O livro de Bergé -empresário e companheiro do estilista
desde 1958- consiste em uma
série de cartas dirigidas a Saint
Laurent, depois da morte deste, entre 5 de junho de 1998 e 14
de agosto de 2009.
São relatos comoventes, escritos com paixão e sinceridade, em que Bergé realiza um
verdadeiro trabalho de luto.
Ele revê em tom quase confessional detalhes de sua relação
com Saint Laurent -que ele às
vezes chama de Kikou.
O amor e a admiração que
tem pelo estilista não impedem
Bergé de expor as dificuldades
que o casal enfrentou, sobretudo nos últimos anos de vida de
Saint Laurent, destruídos pelo
álcool e pelas drogas. "O crepúsculo de tristeza que caiu sobre seu rosto nos últimos anos
era insuportável", escreve.
O empresário também não
oculta as tentativas de suicídio
de Saint Laurent e o gosto do
estilista por rapazes árabes,
que ele costumava convidar à
sua casa no Marrocos, hoje
transformada em um museu.
Um tom apologético, porém,
domina o livro, como se revelar
as fraquezas do estilista fosse,
afinal, apenas um meio de fazer
sobressaltar o seu gênio.
"Mauvais Garçon" é uma
biografia não autorizada, que
ganhou neste momento de endeusamento de Saint Laurent o
aspecto de um verdadeiro antídoto antimitificação.
De escrita ágil, indiscreta e
irreverente, o livro traça um retrato sem idealizações do estilista, com deliciosas e maliciosas revelações.
A autora é particularmente
impiedosa com Pierre Bergé.
"Ele converteu a fragilidade do
costureiro em um pequeno império lucrativo", escreve a jornalista e biógrafa Marie-Dominique Lelièvre.
Seu livro, no entanto, é menos forte, como apuração e escrita, que "The Beautiful Fall"
(a bela queda), de Alicia Drake,
de 2006, uma implacável reportagem histórica sobre a
conflituosa relação entre Saint
Laurent e Karl Lagerfeld.
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