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MÚSICA
Casquinha, 78, e Guilherme de Brito, 79, lançam CDs; Jards Macalé, 58, homenageia Moreira da Silva
Samba dos bambas ganha nova chance em discos inéditos
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL
Há moçada nova no pedaço.
Beirando os 80 anos, o mangueirense Guilherme de Brito e o portelense Casquinha comemoram a
novidade (eles próprios dizem
que não esperavam mais) de poderem gravar discos inéditos, em
esquema de luxo e rigor.
Une-se aos dois o "nova velha-guarda" (o termo é dele) Jards
Macalé, 58, que dedica disco inteiro ao mestre da malandragem
Moreira da Silva (1902-2000), outro com quem as gravadoras já
não queriam mais conversa.
"Samba Guardado" (de Guilherme), "Casquinha da Portela"
e "Macalé Canta Moreira" chegam juntos por iniciativa da nova
Lua Discos e do sambista Moacyr
Luz, coordenador dos projetos e
produtor dos três álbuns.
A paulistana Lua é dirigida pelo
também compositor Thomas
Roth, 49, que festeja abrigar tanta
história sob seu selo, mas não
quer se caracterizar como editor
de samba ou velha-guarda.
"Quero constituir um pólo fomentador de arte e preservação
de memória, não importa se os
artistas são antigos ou novos", diz
Roth, que lançou há pouco o segundo disco da nova baiana eletrônica Rebeca Matta e prepara
trabalhos dos veteranos pouco
conhecidos Virgínia Rosa, Filó
Machado e Simone Guimarães.
Do lado dos "antigos", Casquinha, 78, comanda a novidade.
"Casquinha da Portela" é o primeiro trabalho solo desse integrante histórico da Velha Guarda
da Portela, desde há muito parceiro de discípulos seus como Paulinho da Viola, Candeia e Zeca Pagodinho ("em todo disco do Zeca
eu participo do coro", constata).
"Vou ser sincero: eu já não esperava por essa oportunidade. Estou cansadão, velhusco. Quando
me convidaram eu não queria,
porque pouco falta para eu fechar
o paletó. Mas fui convencido e estou satisfeitíssimo. De saúde é que
não estou muito bom, mas acho
que não é sério, é coisa de velho."
Guilherme de Brito, 79, parceiro
histórico de Nelson Cavaquinho,
traz discurso parecido no bolso e
fala das participações dos "jovens" Luiz Melodia e Cássia Eller
em seu disco: "Eles não são jovens, são veteranos. Jovens, só na
idade. Têm mais estrada do que
eu. Melodia quando entra encobre minha voz. Mas tudo bem,
nós ficamos amigos".
E conclui, autocrítico: "Estou
muito feliz, pena que tenha acontecido tão tarde. Já cantei bem
melhor que isso, minha voz já foi
melhor. Fiz o melhor que podia".
O produtor Moacyr Luz dá o
tom geral do projeto, ressaltando
a presença dos convidados "de
vanguarda" e o volume de sambas
inéditos reunidos nos álbuns de
Guilherme e Casquinha:
"Ando pelos botequins e vejo
caras de 79 anos sacando músicas
clássicas junto com mais um punhado de inéditas. Isso incomoda, como é que pode? Só eu vou
conhecer? A Lua Discos faz parte
de uma nova mentalidade, tenho
enorme esperança no futuro da
MPB. Precisamos de novos casquinhas e guilhermes, precisamos
conhecê-los para saber disso."
Adianta-se: "Quis retomar com
eles a religiosidade do LP, as 12
músicas que sentávamos para ouvir com atenção, uma após a outra. Fiz três discos de 12 faixas, não
acredito nos 72 minutos de música de um CD, acho que dispersa".
À parte (mas nem tanto) da noção geral do projeto de reconhecimento em vida de nomes hoje jogados a escanteio, Jards Macalé
retoma a vertente do samba de
malandragem carioca, homenageando um autor e intérprete de
quem foi amigo desde os anos 70
até sua morte (uma parceria dos
dois, "Tira os Óculos e Recolhe o
Homem", está incluída no CD).
"Era uma coisa que já estava na
minha cabeça fazia muito tempo,
mas a idéia de concretizar foi do
Moacyr. Eu vinha da linha de Moreira, num caminho paralelo, com
elementos de humor. Não sou só
isso, nem ele era. Acho até que a
história do malandro afastou o
grande cantor que ele era, na linhagem de Orlando Silva. Procurei fazer tudo ao mesmo tempo,
não sair do barato do Moreira
nem da minha inventividade."
Contando com a participação
de Zeca Baleiro, ele fala do anúncio não concretizado da presença
do rapper Marcelo D2: "D2 não
apareceu no dia da gravação. Mas
como ele já havia desaparecido
outras vezes, com outras figuras,
nem me preocupei", brinca.
Para concluir, Macalé se diz à
vontade metido entre os da "velha
nova guarda": "Sempre andei no
meio de bambas. Os velhinhos
(como eu) estão entusiasmadíssimos. Não é um projeto saudosista, é a afirmação de um som brasileiro de altíssima qualidade musical e poética". Falou, bicho.
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