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GASTRONOMIA
EXÓTICO
Estabelecimentos americanos comercializam carnes como a do leão
O rei dos animais vira churrasquinho de rico
SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK
O leão pode ser o rei dos animais, mas também rende um bife
delicioso, que lembra a carne de
porco em gosto e consistência. Já
a zebra, sua colega de estepes e savanas, fica mais saborosa se preparada como churrasco.
Era inevitável. Depois de anos e
anos de exuberância irracional na
economia e já esgotadas as incursões à alta culinária francesa e italiana, o norte-americano endinheirado começa a descobrir a
graça das carnes exóticas.
Já há pelo menos cinco estabelecimentos no país que comercializam tais produtos, sendo o maior
o site 888eatgame ("eat game", ou
"coma caça"). No item "carnes
realmente exóticas", as ofertas
vão dos já citados leão e zebra a
lhama e cascavel.
E sai? Bastante, segundo o proprietário do site, Greg Landry,
que não revela números. Ele só
pede um prazo razoável de entrega, pois tem de importar pedido a
pedido de seu fornecedor africano, e aconselha que o cliente faça
amizade com o açougueiro local,
pois o pacote despachado traz
sempre uma peça inteira.
Não é barato, também. Um espetinho de leão pode custar R$
130 o quilo. Já o lombo está um
pouco mais caro: R$ 160 a peça.
Nesse sentido, vale mais a pena
encomendar a lhama sul-americana, a modestos R$ 30 o quilo,
mais despesas de envio.
Não é preciso se apertar na hora
da degustação, pois o próprio site
fornece sugestões de preparo.
Tente a Caçarola de Urso à Nova
Inglaterra, por exemplo: leva vinho tinto, alecrim, cebolas, pimenta em grão e cravo. Tem de
deixar no forno duas horas por
quilo de urso a ser consumido.
Greg Landry promete agora incorporar outro item muito pedido por seus clientes entre as opções de seu site baseado em Hollywood (não a de Los Angeles, mas
sua homônima na Flórida): carne
de hipopótamo.
Para os mais preguiçosos ou
com menos talento culinário, já
há restaurantes que oferecem carnes exóticas em seu cardápio. No
Eight Mile Creek, de Nova York,
por exemplo, é popular a salada
com nacos de canguru.
O marsupial, servido em filés
sobre um leito de lentilhas, lembra o gosto da brasileira picanha
de vaca, assim como o hambúrguer de avestruz, outro dos pratos
oferecidos no ponto australiano.
Segundo Landry, do 888eatgame,
canguru é a nova febre.
Do outro lado do país, em Santa
Barbara, na Califórnia, o restaurante Cold Spring Tavern incorporou recentemente pratos à base
de leão com sucesso. Agora, pensa
em girafa e camelo.
Para chegar aos EUA, as carnes
exóticas não passam pela fiscalização rígida que sofrem os suínos
e os bovinos, principalmente nesta época de vaca louca. Não são
nem mesmo reguladas pelo Departamento de Agricultura.
Estão sob o chapéu do Food and
Drug Administration, agência federal americana que controla alimentos e medicamentos, que divulga uma lista dos animais que
podem ser vendidos legalmente
como "carne de caça".
A única exigência é que sejam
"manuseados corretamente", não
façam parte da lista de animais
em extinção e estejam à disposição para eventual inspeção.
Como os romanos
De acordo com o historiador
gastronômico Warren Belasco, da
Universidade de Maryland, o interesse atual por tais alimentos
pode ser reflexo da noção de que o
ser humano é o mundo, portanto
pode comer o mundo, uma herança do Império Romano.
Segundo escreveu o autor do livro "Appetite for Change: How
the Counterculture Took on the
Food Industry" (Apetite por Mudança: Como a Contracultura Enfrentou a Indústria Alimentícia,
Cornell University Press, 1993),
há ainda o fator chamado "magia
simpática": "Se eu comer um leão,
eu me torno um leão".
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