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ILUSTRADA
Empresário e diretor teatral se reuniram para conversar sobre projeto de construção de shopping na área do teatro
Silvio Santos encontra Zé Celso no Oficina
DA REDAÇÃO
Depois de mais de duas décadas
de conflitos, o empresário e apresentador de TV Silvio Santos e o
diretor José Celso Martinez Corrêa se reuniram ontem, no teatro
Oficina, em São Paulo. Eles conversaram sobre projeto do shopping que o Grupo Silvio Santos
pretende construir em terreno de
sua propriedade em torno do teatro, no bairro do Bexiga.
"O encontro foi extraordinário,
mágico, é uma coisa que há 25
anos eu sonho", afirmou o diretor, que pela primeira vez se avistou com o empresário.
Da reunião também participaram o senador Eduardo Suplicy,
acompanhado de seu filho, o cantor Supla, e o psicanalista Contardo Calligaris, colunista da Folha.
O encontro foi intermediado
por Suplicy, que telefonou ao empresário, dono da rede de TV
SBT, na última sexta, um dia após
a publicação, na Folha, de coluna
em que Contardo Calligaris propunha em carta aberta a Silvio
Santos que ele conversasse com
Zé Celso e fizesse uma visita ao
teatro. Silvio Santos manifestou a
Suplicy o interesse em conhecer o
Oficina, e a reunião foi marcada.
O empresário chegou ao teatro
desacompanhado, às 17h. Foi recebido por integrantes do grupo
teatral, que cantaram músicas do
espetáculo "O Homem 2".
Zé Celso contou um pouco da
história do grupo e apresentou o
teatro a Silvio Santos. Depois encaminharam-se para o mezanino
do Oficina, onde Zé Celso detalhou seu projeto de construir um
anfiteatro para grandes peças populares, espécie de "universidade
popular do teatro".
O diretor teatral enfatizou não
se opor a iniciativas de desenvolvimento do bairro do Bexiga e
disse não ver contradições entre o
projeto do Grupo Silvio Santos e a
manutenção do Oficina. O grupo
de Zé Celso entregou a Silvio Santos um projeto de expansão do
teatro que prevê a utilização dos
terrenos que o shopping e o centro de diversões ocupariam, numa tentativa de conciliar as duas
propostas. O trabalho foi desenvolvido pela arquiteta Cristiane
Cortilio. Silvio Santos afirmou
que o levaria para sua equipe avaliar a viabilidade do projeto.
"Os Sertões" e água-de-coco
A reunião durou cerca de uma
hora. O empresário tomou água-de-coco, recebeu uma edição de
"Os Sertões", de Euclydes da Cunha, com dedicatória escrita pelo
diretor, e deixou a promessa de
que voltariam a se encontrar.
Ao final da visita, o grupo Oficina cantou para Silvio Santos samba dos anos 70 da escola carioca
Vila Isabel cuja letra diz: "Eu sou o
teatro brasileiro/Da vida o espelho verdadeiro". Silvio Santos escutou até o fim e foi acompanhado por aplausos do grupo até sua
saída do teatro.
"Se nas suas próximas apresentações vocês cantarem com tanto
carinho, terão o maior sucesso",
declarou Silvio Santos.
"Ele achava que a disputa era
exclusivamente pela preservação
do teatro. Foi recebido pelo elenco todo, agradeceu e ficou impressionado", disse Zé Celso.
"Outra dimensão"
No final, o diretor fez uma avaliação positiva do encontro. "O
Silvio veio sozinho, sem paranóia,
chegou na hora, isso é importantíssimo. Estávamos nos preparando para recebê-lo de corpo aberto, de alma aberta. Fui caminhando com ele e mostrando os buracos que existem no fundo do teatro, e os atores ficaram o tempo
todo se concentrando. Estou orgulhosíssimo, os atores conseguiram manter uma atmosfera zen,
tântrica", disse ele.
Segundo Zé Celso, foi dito a Silvio Santos que o grupo pretende
fazer um "teatro dedicado à cultura brasileira antropofágica, e que
já estamos preparados para isso.
Ele se surpreendeu. Quis saber
quanto custa o projeto. E o convidei para atuar", contou. Para ele,
"a partir de hoje, mudou a relação" com Silvio Santos.
"Vi nele uma pessoa de carne e
osso e, por trás do homem em que
existe só comércio, vi uma outra
dimensão, muito contagiante,
muito talentosa. Esse encontro
pode ser uma revolução na cultura de São Paulo", disse.
Para o senador Suplicy, o encontro foi entre "duas pessoas de
genialidade e talento". E considerou o episódio "uma experiência
de "serendipity" [dom de fazer
descobertas felizes, por acaso]".
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