São Paulo, quinta-feira, 19 de abril de 2007 |
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Filme sobre Niemeyer estréia de graça
O cineasta Fabiano Maciel testa, no lançamento de seu primeiro longa, tática de substituir propaganda por entrada franca
SILVANA ARANTES DA REPORTAGEM LOCAL O documentário "Oscar Niemeyer - A Vida É um Sopro", de Fabiano Maciel, estréia amanhã em cinemas de seis cidades brasileiras com os ingressos já totalmente vendidos. Ou melhor, comprados. Pelos próprios distribuidores do filme. "Foi uma opção, uma idéia nova. Em vez de gastarmos em mídia [propaganda], gastamos em ingressos", diz Maciel, que assina pela primeira vez a direção de um longa-metragem. As sessões (apenas uma por dia em cada cinema) serão gratuitas somente na primeira semana do filme em cartaz. A estratégia do diretor e dos distribuidores do documentário -os selos Gávea Filmes e Pipa- supõe que os primeiros espectadores produzam um "boca-a-boca" (o comentário positivo espontâneo) suficiente para impulsionar a sobrevida do filme, cujos ingressos serão cobrados normalmente a partir da segunda semana. Bilheteria Maciel não tem a pretensão de que "Oscar Niemeyer - A Vida É um Sopro" seja um estouro de bilheteria. "É um documentário. Obviamente, minha expectativa [de público] é modesta", afirma. Dada a (quase) invariavelmente desalentadora performance nas bilheterias dos filmes brasileiros estreados neste ano, o diretor tem razões para temer que, até mesmo de graça, seu filme seja pouco visto. "Tenho este receio, sim. Mas o que vou fazer? Só se eu mudasse de profissão", afirma o gaúcho Maciel, que abraçou o cinema depois de ser "produtor de bandinhas de rock adolescente" em Porto Alegre. Maciel trocou o Rio Grande do Sul pelo Rio de Janeiro em 1986. As filmagens de "Oscar Niemeyer - A Vida É um Sopro" também datam de longe. Começaram em 1997, quando Maciel passou quatro dias gravando depoimentos do arquiteto. O diretor achou que, tendo a principal parte de seu filme assegurada -a entrevista com o personagem-, "seria fácil captar dinheiro para fazer o resto, filmar as obras". Não foi. E só agora "Oscar Niemeyer - A Vida É um Sopro" chega às telas. O documentário é "um filme de quem gosta do Oscar, assumidamente em defesa da arquitetura dele", afirma o diretor. O impulso para realizá-lo surgiu da avaliação do cineasta de que "o país está ficando cada vez mais feio", dada "a arquitetura que está sendo feita, um verdadeiro retrocesso, como esses prédios em Moema [zona sul de São Paulo] imitando Paris nos anos 20". Além desse incômodo, Maciel alimentava outro, o das "conversas de botequim em que todo mundo fala mal dele [Niemeyer], questiona a funcionalidade de suas obras". Dono de proverbial impaciência, o arquiteto aceitou gravar os depoimentos, mas não facilitou a vida do cineasta. "Se você quer humor, faça um filme sobre o Jaguar", respondeu Niemeyer à pretensão de Maciel de obter declarações descontraídas de seu personagem. Frases Mas devia ser apenas "tipo", porque "Oscar Niemeyer - A Vida É um Sopro" é recheado de frases divertidas do arquiteto, que revela o seu "lema", escrito num objeto do escritório: "Fodido não tem vez". O filme repassa as principais obras de Niemeyer, desde antes do seminal complexo da Pampulha até o Museu de Arte Contemporânea, em Niterói. O longa detalha ainda sua relação profissional com o mestre franco-suíço Le Corbusier, com quem fez o projeto do Palácio Capanema, no Rio, sede do Ministério da Cultura, e o do edifício da ONU (Organização das Nações Unidas), em Nova York. Maciel se regozija com o trecho em que Niemeyer discorre sobre o projeto do edifício da ONU, "porque é um tema sobre o qual ele raramente fala". Mas o diretor guardou também suas frustrações. O arquiteto não quis comentar algumas das obras sobre as quais Maciel tem grande interesse, como a UnB (Universidade de Brasília) e o Copam, em São Paulo. Contudo, Niemeyer não se esquivou de responder, enfaticamente, ao questionamento sobre a suposta carência de funcionalidade de suas obras. "Reclamam: "Por que a praça dos Três Poderes não tem vegetação? Por que tanto sol? Gente, tem que explicar isso, que é tão intuitivo! Ali é uma praça cívica. É diferente. Tem que valorizar a arquitetura. Imagina se enchêssemos a praça San Marco [em Veneza] de árvores. Teria mais sombra, mas ela tinha desaparecido. Tudo tem que dar uma explicação. Mediocridade ativa é uma merda!", diz. "A vida é um sopro" é uma frase recorrente de Niemeyer no filme. O diretor alçou-a ao título porque "além de ser poética, soa um pouco irônica dita por alguém acima dos 90 anos". Niemeyer chega ao centenário no dia 15/ 12. Texto Anterior: Horário nobre na TV aberta Próximo Texto: Frases Índice |
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