SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL

Por dois séculos e meio, o Japão fechou suas portas para cultivar a beleza da própria terra. O chamado período Edo, que foi de 1603 a 1867, marcou o isolamento do país e o desenvolvimento das artes têxteis, da cerâmica e do artesanato.
Na primeira mostra realizada na América do Sul focada apenas nesse período, a Pinacoteca do Estado recebe cerca de 160 itens da era Edo: quimonos, objetos domésticos, armaduras, espadas, cerâmica e ornamentos em laca -madeira revestida com a própria seiva, ouro e prata. "Sem contato com outros povos, os japoneses criaram uma cultura de muito requinte", afirma o curador da mostra, Takesama Saito.
Há cerca de 50 quimonos, todos em seda, com bordados de paisagens e poemas do país. Produto abundante das minas japonesas, o ouro aparece até nas roupas, contornando as formas. A história do kabuki, teatro popular que surgiu no período Edo, também aparece nos quimonos preparados para os espetáculos. "As pessoas levam sustos só de ver o quimono", diz Saito, que relaciona as formas avantajadas à idéia do kabuki como um teatro de impacto.
Outra sala destaca armaduras dos samurais e duas espadas importantes do patrimônio histórico japonês. Exemplares da cerâmica japonesa no tradicional estilo kakiemon também fazem parte da mostra. As peças delicadas, ricas em detalhes, não eram usadas no Japão.
"Esses vasos eram exportados para a Europa como jóias", explica Saito, mostrando que essa beleza introspectiva também vazou.