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CRÍTICA
"Livre para Voar" não sai do chão
FÁTIMA GIGLIOTTI
DA REDAÇÃO
Jane (Helena Bonham Carter) é uma garota de 25 anos,
geniosa e obcecada com a idéia de
perder a virgindade. O destino coloca em sua vida Richard (Kenneth Branagh), um pintor obcecado com a idéia de voar, de preferência numa máquina construída
por ele.
O novo amigo não se oferece
para o papel de primeiro amante,
mas para o de uma espécie de gigolô: ele decide assaltar um banco
para pagar um michê à altura de
Jane. Os dois vão até Londres para
executar o plano.
Visto assim, "Livre para Voar,
assinado pelo estreante Paul
Greengrass, parece uma comédia
romântica daquelas que não fariam mal à carreira de Julia Roberts ou Sandra Bullock.
Não fosse um pequeno detalhe:
Jane sofre de uma doença nervosa
degenerativa, em estado terminal.
E Richard é um fracassado, que só
se ofereceu para cuidar de Jane
porque precisa cumprir a sentença de 120 horas de trabalho comunitário, depois de perturbar a vida
londrina tentando dar uma de
Ícaro para combater o azar.
Em Hollywood, esse pequeno
detalhe seria suficiente para dar
em dramalhão. No cinema inglês,
com sua marcante ironia, poderia
dar em humor negro. Mas Greengrass e o roteirista Richard Hawkins ficaram no meio termo.
Fatal. O roteiro de "Livre para
Voar" é tão calculado para não esbarrar no dramalhão que acaba ficando frio, sem emoção. E as tentativas de adicionar humor à bizarra relação entre Jane e Richard
resultam patéticas, em grande
parte porque o personagem de
Branagh é mal construído.
Há, obviamente -afinal, é cinema inglês- golpes de inteligência, como a inversão de papéis, a vida gritando num corpo
doente e a autodestruição de uma
mente doente. Ou a reflexão sobre
a ditadura do sexo na sociedade
contemporânea. Ou a metáfora
para o vôo, redenção.
São vôos rasantes. Resta saber
por que intérpretes do calibre de
Branagh ("Hamlet") e Bonham
Carter ("Poderosa Afrodite")
compraram essa briga. Provavelmente pelo desafio de dar humanidade e coerência a personagens
tão pouco convencionais. Ou
convencionais demais. Os momentos em que os dois interagem
no filme são luz na escuridão.
Livre para Voar
The Theory of Flight
Direção: Peter Greengrass
Produção: Inglaterra, 1998
Com: Kenneth Branagh, Helena Bonham Carter, Gemma Jones
Quando: a partir de hoje nos cines Belas Artes, Cinearte 1 e Lumière 2
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