São Paulo, sábado, 19 de maio de 2001

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DA RUA

Homem/mulher

FERNANDO BONASSI

É evidente que R. era pra ser mulher. Usava calção de malha nas aulas de educação física; gostava de pôr mesa no recreio; dormia de vestido velho e aprendeu francês na sexta série. Quem teria coragem de dar aquela boca a um homem?!
R. conserva essa classe feminina do movimento, que sai do chão sob a forma de impacto e se espalha sinuoso pelas pernas e pela cintura. Por isso se equilibra perfeitamente nos piores saltos e cuida de crianças como ninguém. Quem não lembra a felicidade com que recebeu nossos primeiros pêlos e a desolação com os seus próprios; a desordem racional de seus pertences; seus períodos uterinos? Nunca tivemos dúvida. Nunca discordamos dela. Mas é como R. mesmo diz: "Deus justo não existe".


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