|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
DA RUA
Homem/mulher
FERNANDO BONASSI
É evidente que R. era pra
ser mulher. Usava calção de
malha nas aulas de educação
física; gostava de pôr mesa no
recreio; dormia de vestido velho e aprendeu francês na
sexta série. Quem teria coragem de dar aquela boca a um
homem?!
R. conserva essa classe feminina do movimento, que
sai do chão sob a forma de
impacto e se espalha sinuoso
pelas pernas e pela cintura.
Por isso se equilibra perfeitamente nos piores saltos e cuida de crianças como ninguém. Quem não lembra a felicidade com que recebeu
nossos primeiros pêlos e a desolação com os seus próprios;
a desordem racional de seus
pertences; seus períodos uterinos? Nunca tivemos dúvida.
Nunca discordamos dela.
Mas é como R. mesmo diz:
"Deus justo não existe".
Texto Anterior: "O Mesmo Mar": Livro estabelece diálogo entre ficção e confissão Próximo Texto: Cannes: Produção independente vira trunfo ianque Índice
|