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10ª BIENAL DO LIVRO
"Escrevo para dizer: cuidado com o amor"
A uruguaia Carmen Posadas trata de relacionamentos em "Um Veneno Chamado Amor"
DA SUCURSAL DO RIO
Carmen Posadas, 47, é elegante,
bonita e tem voz de cantora de boleros. Além disso, em 1998, ganhou o maior prêmio literário da
Espanha em dinheiro, o Planeta, o
que lhe rendeu cerca de R$ 610
mil. Com todos esses predicados,
ela adverte: "Tenham cuidado
com o amor".
É com essa mensagem que a escritora uruguaia, radicada na Espanha desde os 12 anos, vem para
a 10ª Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro lançar "Um
Veneno Chamado Amor".
O livro, que se pretende um ensaio sobre as relações amorosas,
tem a superficialidade adequada a
um best-seller e tem a única missão de provar que amor não é a
mesma coisa que paixão.
A escritora admite que a obra
surgiu depois de ela mesmo ter
sofrido por confundir os dois
conceitos. A seguir, trechos de sua
entrevista à Folha.
(ANTONIO CARLOS DE FARIA)
Folha - Você fez um livro para mulheres?
Carmen Posadas - Não, creio que
não. Penso que é uma reflexão,
que, como é minha, não poderia
ser apenas para mulheres. Acho
que o interesse pelo assunto é
igual entre os homens.
Folha - Mas ao final, na conclusão, você aconselha, por exemplo,
o uso de lingerie ousada para estimular uma relação. Isso não reforça a idéia de que é um livro para
mulheres?
Posadas - Não era minha idéia.
O que eu queria era dirigir-me às
pessoas que confundem o amor
com a paixão. Há muitas pessoas
que confundem uma coisa com a
outra, quando, na realidade, a
paixão é a centelha que acende o
amor. Se a paixão não se transforma em algo mais tranquilo, se é
repelida, pode virar uma obsessão
e com consequências terríveis.
Folha - Seu livro é repleto de casos como suicídios, homicídios. Você quis atrair a curiosidade mórbida dos leitores?
Posadas - Eu quis mostrar casos
da vida real, dar consistência ao
tema. A confusão entre amor e
paixão se deve muito à literatura e
ao cinema, onde geralmente há o
final feliz. Quis mostrar os extremos a que se pode chegar, quando
se tem um amor mal entendido.
Folha - Você acha negativo o tratamento que o cinema e a literatura fácil dão ao tema?
Posadas - Sim. Creio que é negativo porque se criam expectativas
impossíveis de manter. A paixão é
algo bonito desde que seja breve e
dê caminho ao amor, caso contrário é perigosa.
Folha - Você acredita que hoje há
menos condições para a existência
dos amores trágicos do romantismo literário?
Posadas - Antes o amor era restringido pelos casamentos de
conveniência, pelas uniões que
não se podiam romper, pelas distâncias. Hoje, essas restrições
quase não mais existem e por isso
o amor é mais possível. E justamente por ser tão possível ele
também é mais efêmero.
Folha - A razão do ocaso dos amores trágicos não seria também o fato de que as pessoas estão conscientes de que não há ninguém que
possa ser o complemento ideal?
Posadas - A confusão está justamente aí. Muitas pessoas ainda
continuam buscando uma relação inalcançável e mitificam o ser
amado, como um deus, um ideal.
Quando não conseguem o objeto
do desejo, ou quando se sentem
ameaçadas de perdê-lo, são capazes de cometer crimes. Não digo
que todas as paixões são assim,
mas o que me interessa são os casos extremos.
Folha - Você acha que as pessoas
hoje estão mais preparadas para
viver sós?
Posadas - Acho que as pessoas
nunca estão preparadas para a solidão. É uma coisa difícil. Acho
que a internet está causando uma
revolução nas relações humanas,
porque ela, sim, propicia que pessoas solitárias mantenham relações com pessoas distantes, mesmo estranhas.
Folha - Com o fim da ilusão de que
há a pessoa perfeita, a metade perdida, você acredita que há mais
propensão para relacionamentos
com mais parceiros?
Posadas - Antes, as pessoas se
casavam e tinham relações extramatrimoniais, uma, duas ou mais.
Agora, é mais fácil separar e casar
outra vez. Portanto é possível ter
muitos projetos amorosos. Por
um lado, isso leva a que não se coloque muito esforço para que
uma relação se mantenha. Por outro, as pessoas também ficam aptas a viver mais ilusões. É claro isso implica viver também mais desilusões.
Folha - Você escreve que os temas
da paixão e do amor sempre foram
uma fonte de lucros para a indústria cultural. O seu livro não é mais
um exemplo disso?
Posadas - Sim, creio que sim.
Mas está escrito em um ponto de
vista diferenciado. Há muitos escritores, diretores de cinema, que
utilizam os sentimentos humanos
para comover ou fazer chorar. Eu
escrevo para dizer: tenham cuidado com o amor.
UM VENENO CHAMADO AMOR -
ENSAIOS SOBRE PAIXÕES, CIÚMES E
MORTES. De: Carmen Posadas. Editora:
Objetiva. Tradução: Rubia Prates
Goldoni. 172 págs. R$ 20,90.
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