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BIENAL DO LIVRO
Em entrevista, o escritor americano Jonathan Franzen defende a busca pelo entretenimento na literatura séria
"A boa ficção revela o gosto do fracasso"
DO ENVIADO AO RIO
Com apenas três romances publicados, Jonathan Franzen já conquistou o papel de um dos
principais arautos da ficção contemporânea dos
EUA. O sucesso esmagador de
"As Correções", história com eixo
em uma família cujo pai tem as
memórias devastadas pelo Parkinson, alçou o escritor de 43 anos
ao papel não apenas de ficcionista
"top", mas também de "top" pensador dos rumos do romance de
hoje. Leia trechos da entrevista.
(CASSIANO ELEK MACHADO)
Folha - Em um ensaio seu de anos
atrás você se mostrava muito pouco confiante sobre o futuro do romance. Até que ponto sua experiência com "As Correções" mudou
seu ponto de vista?
Jonathan Franzen - Já havia mudado de opinião logo que terminei esse livro de ensaios. Não teria
escrito "As Correções" se não tivesse recuperado minha fé no romance.
Folha - Você disse em entrevista
que a literatura séria nunca devia
deixar de lado a idéia de entreter.
Você acha que essa busca pela satisfação do público foi fundamental para o sucesso de "Correções"?
Franzen - Jogar tênis em uma
quadra sem a rede é muito esquisito. Eu já tentei, de verdade. Eu
acho que tênis é mais divertido se
jogado de acordo com as regras e
o mesmo se aplica para a escrita.
Folha - Alguns críticos chamam
essa literatura "jogada com a rede" que você e outros americanos
vem fazendo de neoconservadora.
Franzen - Não compartilho da
opinião dos que acham que a experimentação formal deve ser defendida como forma de resistência social. Acho tolice. Quando
leio ficção é como se tivesse um
caso de amor. O livro não vai me
mudar se não o estiver amando.
Folha - Por que o tema fracasso,
que tem destaque em "Correções",
é tão importante para autores
americanos como William Gaddis,
Don DeLillo e Philip Roth?
Franzen - Acho que toda vida
humana se desenrola no contexto
do fracasso definitivo, a mortalidade. Para mim o fracasso é mais
engraçado que o sucesso. Se não
estou rindo sei que não estou fazendo o livro certo.
Folha - E como você lida com o
grande sucesso, que obteve com
esse livro sobre o fracasso?
Franzen - Primeiro passei seis
meses enfiado em uma quase que
total negação psicológica. Depois,
outros seis meses tentando escrever outro romance, o que leva diretamente de volta à sensação de
fracasso. Nada como tentar escrever boa ficção para saber o gosto
do fracasso. Toda minha vida foi
um grande fracasso pontuado por
momentos esparsos de sucesso.
Folha - Na época em que negou
convite ao programa da apresentadora Oprah Winfrey alegando que
era um escritor de alta cultura, você disse: "Os jornais americanos só
falavam de antraz, antraz, Afeganistão, Afeganistão e do vilão Franzen". Essa imagem ainda existe?
Franzen - Se encontro alguém
em um avião, um encanador, e digo que sou um escritor e fiz tal livro, ele não terá a menor idéia de
mim. Se digo que fui eu que tive
um problema com Oprah, dirá:
"Ah, já sei, claro". Você mesmo,
quando for escrever sobre mim,
terá de mencionar a história, pois
é por ela que sou mais conhecido.
AS CORREÇÕES. Autor: Jonathan
Franzen. Tradução: Editora: Companhia
das Letras. Quanto: R$ 49 (584 págs.)
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