DA REPORTAGEM LOCAL

Há seis anos, ela fazia parte do coro. Na segunda peça, foi protagonista. Agora, Juliana Galdino volta a encabeçar o elenco.
Sua trajetória no CPT ilustra a perseverança de Antunes Filho quanto ao trabalho de voz do ator.
"A gente está percebendo o avanço técnico, o amadurecimento", diz Galdino, 31, que passou por "Fragmentos Troianos", "Medéia" (foram duas versões) e chegou a "Antígona".
Ela a enxerga como uma personagem exemplar. "Existem personagens que têm princípios arraigados numa moral. Antígona, não. Ela está falando da vida. É o contrário de Medéia, que tocava numa questão pessoal, um sentimento de traição."
Há 15 anos, J.C. Serroni já participava de ensaios de "Antígona", numa daquelas fases em que Antunes retomava o projeto e, depois, adiava. Lembra ter trabalhado pelo menos seis meses num cenário desenhado todo com papel jornal. Nada a ver com o "panteão grego" que ergueu no palco do Sesc Anchieta.
Há uma passagem final em que o coro de Bacantes dança abraçado, cada uma delas a um esqueleto. Ao longo da peça, alguns cadáveres cruzam o palco.
Não é à toa que Antunes evoca o pensamento do pintor e encenador polonês Tadeusz Kantor (1915-90), para quem a vida pode ser manifestada na arte justamente quando ausente.
A metáfora à prisão de Antígona vem com a personagem imobilizada em bandagem, numa cadeira de rodas. Vê-se apenas o rosto de Galdino e indignação.
Na Grécia Antiga, as peças eram apresentadas à luz do dia. Davi de Brito e Robson Bessa tentam criar uma iluminação que traduza algum resquício solar, apesar da textura cinza e preta do piso e das paredes que servem ao jogo dos 18 atores. "O que interessa é conseguir essa atmosfera densa, que o Antunes quer, e que emoldure os atores, como se o público contemplasse um grande quadro", diz Serroni, 54. (VS)