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HIP HOP
Trio apresenta com banda seu terceiro CD, "El Kilo"
Cubanos do Orishas trazem sua festa vitaminada ao palco de SP
DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL
Política e diversão não devem
andar separadas. Esta é a opinião
dos integrantes do trio de rap cubano Orishas, que apresenta hoje,
em São Paulo, as músicas de seu
terceiro disco, "El Kilo".
"É como quando você toma vitamina C. No início era muito
ruim, mas aí inventaram a efervescente com sabor laranja, que é
uma delícia, mas é vitamina C
também", metaforiza Yotuel, um
dos três MCs do grupo, que, desde
2000, quando estreou com "A Lo
Cubano", vem reunindo música
cubana, rap e crítica social em um
só comprimido.
Apresentando-se com uma
banda de outros quatro integrantes -baixo, metais, percussão e
DJ-, o trio de rappers, que há oito anos, quando o movimento era
ainda "persona non grata" em seu
país, emigrou para a Europa, promete festa, e não palanque.
"Se você vai ouvir um disco que
trata de todos os problemas do
mundo, é melhor ligar a televisão,
que já trata de tudo isso. Queremos diversão", avisa Yotuel.
O repertório inclui principalmente faixas do novo disco, lançado em abril no Brasil, como
"Nací Orishas", "Que se Bate" e
"La Calle". Hits dos dois álbuns
anteriores, como "Lo Cubano" e
"Emigrantes", também podem
estar no repertório do show.
Mas não é por fazerem "festa"
que os cubanos fogem a uma discussão política. Provocados pela
Folha após entrevista coletiva anteontem, em SP, Yotuel, Roldan e
Ruzzo rasgaram o verbo:
FIDEL CASTRO
Roldan - Sei dos erros que cometeu, que está há mais de 40 anos
no poder, mas é o único presidente que pôs o sentimento de cubanos em nós. Os anteriores eram
marionetes dos EUA. Creio que a
situação que temos em Cuba não
depende só de Fidel Castro. Há
uma série de elementos exteriores
que influem nisso, como o bloqueio que sofremos dos americanos há mais de 50 anos.
CENSURA
Roldan - Liberdade é só uma palavra na Europa. Se você passa dos
limites, eles te pegam. É verdade
que em Cuba é difícil fazer música, principalmente rap, porque
você não pode criticar abertamente o sistema. Para mim, liberdade é poder caminhar pela rua às
2h da manhã sem que me aconteça nada. É poder ir ao médico e ser
atendido sem pagar um centavo.
RAP EM CUBA
Ruzzo - Há muitos anos, em 89,
havia esse tabu, esse medo que o
movimento pudesse chegar a Cuba. Mas, nessa época mesmo,
5.000 pessoas enfrentaram Castro
e foram ao primeiro concerto de
hip hop em Cuba. Na época, se dizia que era música do inimigo.
GANGSTA RAP
Yotuel - Há o rap e há o gangsta
rap. Fazer rap é fazer música responsável. O gangsta é o som das
grandes multinacionais. O rap
não: é resultado de um movimento cultural afro-americano. Creio
que as pessoas se confundem
quando dizem que falta música ao
rap mais duro, e que o [rap] mais
musical é mais fraco. Eu acho que
as letras do Orishas são muito duras. Dizer "puta" ou "te mato",
para mim, não é tão duro. Em Cuba se diz: tenha mais medo do calado que daquele que grita muito.
Cachorro que late não morde.
Orishas
Quando: hoje, a partir das 21h30 (show
de abertura: banda Funk U)
Onde: Credicard Hall (av. Nações Unidas,
17.955, SP, tel. 0/xx/11/ 6846-6010)
Quanto: de R$ 60 a R$ 200
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