São Paulo, quinta-feira, 19 de maio de 2005

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HIP HOP

Trio apresenta com banda seu terceiro CD, "El Kilo"

Cubanos do Orishas trazem sua festa vitaminada ao palco de SP

DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL

Política e diversão não devem andar separadas. Esta é a opinião dos integrantes do trio de rap cubano Orishas, que apresenta hoje, em São Paulo, as músicas de seu terceiro disco, "El Kilo".
"É como quando você toma vitamina C. No início era muito ruim, mas aí inventaram a efervescente com sabor laranja, que é uma delícia, mas é vitamina C também", metaforiza Yotuel, um dos três MCs do grupo, que, desde 2000, quando estreou com "A Lo Cubano", vem reunindo música cubana, rap e crítica social em um só comprimido.
Apresentando-se com uma banda de outros quatro integrantes -baixo, metais, percussão e DJ-, o trio de rappers, que há oito anos, quando o movimento era ainda "persona non grata" em seu país, emigrou para a Europa, promete festa, e não palanque.
"Se você vai ouvir um disco que trata de todos os problemas do mundo, é melhor ligar a televisão, que já trata de tudo isso. Queremos diversão", avisa Yotuel.
O repertório inclui principalmente faixas do novo disco, lançado em abril no Brasil, como "Nací Orishas", "Que se Bate" e "La Calle". Hits dos dois álbuns anteriores, como "Lo Cubano" e "Emigrantes", também podem estar no repertório do show.
Mas não é por fazerem "festa" que os cubanos fogem a uma discussão política. Provocados pela Folha após entrevista coletiva anteontem, em SP, Yotuel, Roldan e Ruzzo rasgaram o verbo:

 

FIDEL CASTRO
Roldan -
Sei dos erros que cometeu, que está há mais de 40 anos no poder, mas é o único presidente que pôs o sentimento de cubanos em nós. Os anteriores eram marionetes dos EUA. Creio que a situação que temos em Cuba não depende só de Fidel Castro. Há uma série de elementos exteriores que influem nisso, como o bloqueio que sofremos dos americanos há mais de 50 anos.

CENSURA
Roldan -
Liberdade é só uma palavra na Europa. Se você passa dos limites, eles te pegam. É verdade que em Cuba é difícil fazer música, principalmente rap, porque você não pode criticar abertamente o sistema. Para mim, liberdade é poder caminhar pela rua às 2h da manhã sem que me aconteça nada. É poder ir ao médico e ser atendido sem pagar um centavo.

RAP EM CUBA
Ruzzo -
Há muitos anos, em 89, havia esse tabu, esse medo que o movimento pudesse chegar a Cuba. Mas, nessa época mesmo, 5.000 pessoas enfrentaram Castro e foram ao primeiro concerto de hip hop em Cuba. Na época, se dizia que era música do inimigo.

GANGSTA RAP
Yotuel -
Há o rap e há o gangsta rap. Fazer rap é fazer música responsável. O gangsta é o som das grandes multinacionais. O rap não: é resultado de um movimento cultural afro-americano. Creio que as pessoas se confundem quando dizem que falta música ao rap mais duro, e que o [rap] mais musical é mais fraco. Eu acho que as letras do Orishas são muito duras. Dizer "puta" ou "te mato", para mim, não é tão duro. Em Cuba se diz: tenha mais medo do calado que daquele que grita muito. Cachorro que late não morde.


Orishas
Quando:
hoje, a partir das 21h30 (show de abertura: banda Funk U)
Onde: Credicard Hall (av. Nações Unidas, 17.955, SP, tel. 0/xx/11/ 6846-6010)
Quanto: de R$ 60 a R$ 200


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