São Paulo, quinta-feira, 19 de maio de 2005

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Peça põe "reality show" em suspense

DA REPORTAGEM LOCAL

Em tempos de método para tudo, um suposto diretor de manicômio prega a "libertação" dos pacientes submetendo-os a uma overdose de "reality shows", uma terapia de 24 horas ininterruptas de "espiações" e expiações.
Duas jornalistas vão entrevistar o sujeito e, seguindo os modelos de uma comunicação perversa, aos poucos não se saberá quem é quem na história.
"O Engenho da Loucura" é isso. O diretor Maurício Paroni de Castro, 44, recorre a técnicas do teatro situacionista (ações em espaços públicos, às vezes para pouquíssimas pessoas, sem que sejam anunciadas; uma derivação do happening) e coloca seus atores isolados por personagens televisivos. Loucos, segundo Castro, eles provam que "os maiores loucos" vivem exatamente fora do manicômio ou controlam o limite da sanidade a favor de uma dominação social insana.
"A única coisa que podemos contar é que não é espetáculo interativo e que a comicidade é muito singular", diz o diretor. A peça entra em cartaz amanhã no teatro Crowne Plaza, em SP.
"O funcionamento da perversão é muito simples. Trata-se de excitar o mecanismo de segredo que cerca o ato de assistir à "intimidade" dos outros pela televisão, que se descobrem presos por uma atividade aparentemente integrativa, porém de confinamento real", argumenta Paroni de Castro. "As câmeras depois "reúnem" os isolados. O "reality show" é o isolamento de uma comunidade inteira através dela mesma."
"Engenho" dá seqüência à pesquisa do diretor e da Cia. Atelier de Manufactura Suspeita em torno do gênero "grand-guignol", comédias de horror que surgiram na França durante os anos 1920.
O ponto de partida para o novo espetáculo foi o conto "O Sistema do Dr. Alcatrão e do Professor Pena", do americano Edgar Allan Poe (1809 1849). A dramaturgia também é inspirada em vivências e escritos dos atores.
"Engenho" é a segunda montagem do ciclo Manufactura Suspeita da Meia-Noite, que ocupa o palco do Crowne Plaza às sextas-feiras.
"Farsas Libertinas" explorava os limites do sadomasoquismo. "Agora, a situação é mais de suspense", diz ele. (VS)


O Engenho da Loucura
Dramaturgia, cenografia e direção:
Maurício Paroni de Castro
Com: Cia. Atelier de Manufactura Suspeita (Bruno Kott, Cássio Santiago, Cris Perón, Diego Ruiz, Elisa Band, Fernanda Moura, Gianpaolo Köhler, Roberta Youssef e Ziza Brizola)
Onde: teatro Crowne Plaza (r. Frei Caneca, 1.360, tel. 0/xx/11/ 3289-0985)
Quando: estréia amanhã, à meia-noite; sempre sex., à meia-noite. Até 25/6
Quanto: R$ 20


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