São Paulo, sexta-feira, 19 de maio de 2006

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CRÍTICA

Compositor é antena de seu tempo

LULIE MACEDO
EDITORA DO GUIA DA FOLHA

A Babilônia já caiu. "Welcome to Jamrock" é um disco fundamental sobre o que sobrou dela.
A faixa-título poderia muito bem ter sido escrita aqui e agora: "Di thugs dem wi" do whe" dem got to / And won't think twice to shot you" (os assassinos farão o que têm de fazer / e não pensarão duas vezes para atirar em você). Qualquer semelhança...
É música de protesto, sim. Mas não só. O caçula de Bob Marley soube bem aproveitar sua condição de raspa do tacho para observar, captar e então decodificar tudo à sua maneira.
Fagocitou a rebeldia do reggae "roots", a levada do hip hop, as bases do ragga. Enxertou boa dose pop em tudo. Fez r&b com Bobby Brown ("Beautiful"), rap com Nas ("Road to Zion"), voltou aos primórdios do dancehall com Eek-a-Mouse e Bounty Killer ("Khaki Suit"). Nas costuras no álbum, dá para notar ainda remendos de Shabba Ranks, Lee Scratch Perry e até Sean Paul, com quem é comparado por alguns.
Damian levou dois anos para lapidar a pepita ao lado do irmão Stephen. A manutenção dos valores familiares (pilares da religião rastafári) se faz notar não somente na parceria redonda, mas também em bons momentos como "There for You", canção de gratidão-melhor ignorar a derrapada conservadora de "For the Babies", numa letra antiaborto e antiadoção. Da convivência com o pai, deve ter sobrado pouco na memória. Talvez por isso a herança pareça tão leve e espontânea.
O mérito maior de Damian é funcionar como uma antena de seu tempo, coisa que bons artistas têm obrigação de fazer. A crítica especializada impingiu ao coitado o papel de salvador do reggae, "aquele que colocou o gênero de volta na Billboard". Não parece que era essa a intenção.
"Welcome to Jamrock" é um bom produto, talhado para tal. Quem dera se tudo o que fosse pensado para ser mercadoria conseguisse se dizer autêntico.


Welcome to Jamrock
    
Gravadora: Universal
Quanto: R$ 35, em média


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