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CRÍTICA
Compositor é antena de seu tempo
LULIE MACEDO
EDITORA DO GUIA DA FOLHA
A Babilônia já caiu. "Welcome
to Jamrock" é um disco fundamental sobre o que sobrou dela.
A faixa-título poderia muito
bem ter sido escrita aqui e agora:
"Di thugs dem wi" do whe" dem
got to / And won't think twice to
shot you" (os assassinos farão o
que têm de fazer / e não pensarão
duas vezes para atirar em você).
Qualquer semelhança...
É música de protesto, sim. Mas
não só. O caçula de Bob Marley
soube bem aproveitar sua condição de raspa do tacho para observar, captar e então decodificar tudo à sua maneira.
Fagocitou a rebeldia do reggae
"roots", a levada do hip hop, as
bases do ragga. Enxertou boa dose pop em tudo. Fez r&b com
Bobby Brown ("Beautiful"), rap
com Nas ("Road to Zion"), voltou
aos primórdios do dancehall com
Eek-a-Mouse e Bounty Killer
("Khaki Suit"). Nas costuras no
álbum, dá para notar ainda remendos de Shabba Ranks, Lee
Scratch Perry e até Sean Paul, com
quem é comparado por alguns.
Damian levou dois anos para lapidar a pepita ao lado do irmão
Stephen. A manutenção dos valores familiares (pilares da religião
rastafári) se faz notar não somente na parceria redonda, mas também em bons momentos como
"There for You", canção de gratidão-melhor ignorar a derrapada conservadora de "For the Babies", numa letra antiaborto e antiadoção. Da convivência com o
pai, deve ter sobrado pouco na
memória. Talvez por isso a herança pareça tão leve e espontânea.
O mérito maior de Damian é
funcionar como uma antena de
seu tempo, coisa que bons artistas
têm obrigação de fazer. A crítica
especializada impingiu ao coitado
o papel de salvador do reggae,
"aquele que colocou o gênero de
volta na Billboard". Não parece
que era essa a intenção.
"Welcome to Jamrock" é um
bom produto, talhado para tal.
Quem dera se tudo o que fosse
pensado para ser mercadoria
conseguisse se dizer autêntico.
Welcome to Jamrock
Gravadora: Universal
Quanto: R$ 35, em média
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